segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Fiscalização resgata 111 em situação de escravidão em obras de Cumbica


Por: Redação
27/09/2013
Trabalhadores aliciados pela OAS no Nordeste viviam em condições precárias de higiene, sem alimentação nem roupas de frio. Obra foi terceirizada pela concessionária que administra o aeroporto

Uma operação de fiscalização encontrou 111 pessoas vivendo em condições análogas à escravidão, em regiões próximas a Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo o Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego, funcionários da empresa OAS, uma das maiores construtoras do Brasil, aliciaram trabalhadores da região Nordeste para trabalhar na ampliação do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica, um dos maiores da América Latina. Eles foram encontrados em alojamentos com condições precárias de higiene, sem alimentação nem roupas de frio. Alguns estavam doentes. Sobreviviam desde julho, quando chegaram à capital, com ajuda de moradores da região e representantes da igreja.

Resgatados a partir do dia 6, após denúncia Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Guarulhos e Arujá, esses operários iriam trabalhar como carpinteiros, pedreiros e armadores, com a promessa de registro em carteira, salário de R$ 1.400, vale-refeição e transporte. Trazidos de Pernambuco, Bahia, Piauí e Maranhão (seis são de origem indígena), eles teriam pago a funcionários da construtora uma taxa de R$ 300 para o transporte até São Paulo, mais R$ 100 como garantia da vaga.

Os trabalhadores fizeram os exames médicos solicitados, mas não estavam trabalhando nas obras do aeroporto, pois faziam parte de um “estoque” de trabalhadores, um "banco de espera" à disposição da empresa. “A CLT prevê que a contratação pode ocorrer no local de origem, desde que a empresa contratante apresente uma certidão declaratória de transportes de trabalhadores, onde deve informar o local e as condições de trabalho e se responsabilizar com todo o processo de contratação, incluindo a viagem até a cidade de destino, o que nunca foi obedecido”, afirmou a procuradora do MPT Christiane Vieira Nogueira. Representantes do MTE e do MPT afirmam que as investigações continuam para apurar se mais 160 pessoas estão submetidas às mesmas condições, totalizando 271.

“Estamos tomando providências porque existem mais trabalhadores nessa situação. O povo que tem dinheiro acha que pode pisar no povo nordestino, eu pensava que nunca mais veria esse tipo de trabalho que ainda ocorre no Brasil”, disse o presidente do sindicato, Edmilson Girão da Silva, o Índio.

“Esse é o primeiro passo, continuamos investigando para compreender a real dimensão disso. As investigações ocorrem também com a participação do Ministério Público Federal para verificação de ação criminal no caso”, afirmou o coordenador de Ações de Trabalho Escravo da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) de São Paulo, Renato Bignami.

O MTE, por meio do Programa Estadual de Ratificação do Trabalho Escravo, responsabilizou a OAS pela condição degradante de manter trabalhadores em condições análogas a escravidão. Em nota, a construtora declarou que "vem apurando e tomando todas as providências necessárias para atender às solicitações" do ministério.

A GRU Airport, empresa que terceirizou os serviços contratando a OAS para realização do serviço, foi incluída na ação cautelar e poderá ser responsabilizada no final da ação por todas as ações trabalhistas.

“Existe um entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST) com a Súmula 331, que responsabiliza em caso de terceirização a empresa tomadora de serviços e a prestadora. Portanto, existe o enquadramento da contratante no processo que tramitará para aferir o grau da responsabilidade da concessionária”, observou a juíza Patrícia Therezinha de Toledo, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.

Os trabalhadores resgatados já voltaram a seus locais de origem. Eles foram indenizados com o valor médio de R$ 6 mil cada e receberão todas as verbas rescisórias, além do pagamento de três parcelas de seguro-desemprego. Eles também terão prioridade na inclusão de programas sociais como Bolsa Família e Pronatec.

Contra a empresa foram lavrados 25 autos de infração, totalizando cerca de R$ 140 mil em multas. A construtora poderá ser incluída no cadastro de empregadores que mantêm trabalhadores em condições análogas à escravidão, a “lista suja” do MTE. Assim será monitorada pela fiscalização por mais dois anos e terá restrições de recebimento de financiamento público até comprovar a regularidade. O MPT pediu o bloqueio de bens da OAS e da GRU Airport, no valor de R$ 15 milhões para cada. A OAS pode ser responsabilizada em ação civil, administrativa, trabalhista e criminal. Funcionários da construtora que atuavam na rede clandestina de aliciamento também podem ser indiciados criminalmente pelo caso.

“Isso pode ser a ponta de um iceberg. Infelizmente, acredito que muita gente nessas situações ainda irá aparecer. É necessário visitar todas as obras feitas em sistema de emergência, como esta que está ocorrendo em Guarulhos”, diz o superintendente regional, Luiz Antônio de Medeiros, referindo-se às obras que deverão ser entregues para a Copa do Mundo de 2014.

Em nota, a OAS nega que as vítimas sejam seus empregados e afirma que "a empresa, nas pessoas dos seus representantes, não teve qualquer participação no incidente relatado".

Fonte: Rede Brasil Atual


Fonte: Correio Nogô

"Meu avô teria me fuzilado", diz neta negra de comandante nazista


Por: Redação
30/09/2013
Legenda:"Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen", de Jennifer Teege e Nikola Sellmair
Aos 38 anos, Jennifer Teege descobriu sua verdadeira identidade: é neta de Amon Göth, o assassino sádico de "A lista de Schindler". O novo capítulo de sua vida – doloroso, mas catártico – é agora contado em livro.


"Muita gente não consegue acreditar que essa história não é ficção", comenta Jennifer Teege. Parece, de fato, um tanto absurdo uma mulher de pele escura, de 40 e poucos anos, contar que descobriu que seu avô era um notório criminoso nazista. Trata-se de Amon Leopold Göth, ex-comandante do campo de concentração de Plaszów, nas cercanias da Cracóvia.


O nome é conhecido até hoje. O filme A lista de Schindler, de 1993, narra a história de dois homens: enquanto Amon Göth mata judeus no campo de concentração, Oskar Schindler salva centenas deles, ao recrutá-los para trabalhar em sua fábrica, livrando-os, assim, do campo de extermínio.
Schindler foi honrado em Israel como "Justo entre as Nações"; Göth foi enforcado como criminoso de guerra na Polônia, em 1946. Um alemão e um austríaco, ambos nascidos em 1908: num deles a guerra enfatizou o lado bom; no outro, o mau.


Uma cena do filme de Steven Spielberg, em especial, fica marcada na memória: a partir da varanda de sua casa em Plaszów, Göth dispara contra os presos do campo. Sem mais nem menos. Ainda em vida, esse homem era considerado a acepção do assassino nazista sádico.


Jennifer, neta de Göth, registrou a saga de suas origens no livro Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen (Meu avô teria me fuzilado, em tradução livre), recém-lançado na Alemanha.

Choque de identidade

O pai dela é nigeriano e a mãe, alemã. Jennifer foi criada por uma família adotiva. Ela sabe bem o que acontece quando uma pessoa chama a atenção por ser diferente. "Já quando eu era criança havia comentários, também sobre a cor da minha pele, e na época isso mexia comigo", relata à DW.

Ela estudou em Israel, onde também conheceu muitos sobreviventes do Holocausto. Lia para eles em alemão, e ficava feliz por, mesmo assim, nunca ser percebida como alemã. Ninguém poderia ter imaginado em Israel que justamente essa mulher de pele escura fosse descendente direta de um criminoso nazista.


Durante muito tempo, a própria Jennifer nada sabia de seu histórico familiar. Ela fora entregue ainda pequena à família de criação. No começo, sua mãe natural e a avó ainda a visitavam, depois o contato foi suspenso.

Somente aos 38 anos ela encontrou, por acaso, um livro onde reconheceu sua mãe. O tema era Amon Göth, capitão da SS e comandante de campo de concentração, e sua filha Monika – a mãe natural de Jennifer.


Culpa de geração para geração
Nesse ponto começa o livro escrito por ela juntamente com a jornalista Nikola Sellmair. Com o drástico título, a obra é o relato íntimo da busca de Jennifer por uma identidade, e fala do silêncio do pós-Guerra, cujos efeitos se estendem até hoje.


"Assumam o passado de vocês!", exigiram as gerações mais jovens aos que haviam vivenciado ativamente o nacional-socialismo. "O que o próprio avô fez, muitos não sabem", aponta a jornalista, que no livro situa historicamente a trajetória individual de Jeniffer. "Muitos filhos de nacional-socialistas de destaque oscilam entre a glorificação dos pais e o ódio ilimitado aos seus genitores."


O filho de Rudolf Hess, vice de Adolf Hitler, passou a vida tentando reabilitar o pai. A sobrinha-neta do comandante supremo da força áerea nazista, Hermann Göring, preferiu esterilizar-se – "para não gerar mais um monstro desses", como afirmou.

Monika Göth, a mãe de Jennifer, deu uma série de entrevistas sobre seu pai, onde oscilava entre o ódio a ele a justificação de seus atos. "Os filhos ainda processavam, elaboravam os crimes de seus pais. Já os netos reavaliam os comprometimentos de suas famílias", analisa Nikola Sellmair.
Esse processo mantém os descendentes orbitando em torno da culpa de suas famílias; somente ao reavaliar o passado, os netos encontram o caminho para se libertar dele.

Vítima do silêncio

"Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen", de Jennifer Teege e Nikola Sellmair
"É bem fácil se distanciar de Amon Göth, um símbolo tão forte do mal, e dizer: eu sou diferente", admite Jennifer. "Mas existem nuances, o ser humano não é 'bom' ou 'mau'." Ela considera essa distinção importante, justamente para evitar a demonização. Pois, afinal, foi precisamente isso o que nutriu o nazismo.


Jennifer Teege assume a própria história familiar, olha as fotografias da avó – que passava temporadas com Amon Göth em sua casa no campo de concentração –; viaja para a Cracóvia, local dos crimes de seu antepassado; encontra-se com testemunhas da época; lê tudo o que lhe caia nas mãos a respeito do passado nazista; conversa com psicólogos.


"As pessoas pensam que aquilo sobre que não se fala não tem consequências. Mas, no meu caso, o silêncio teve um efeito destrutivo", resume. Durante toda a vida, ela teve surtos de depressão, e hoje se sente bem. "A origem é fundamental para a própria identidade", conclui.

Até o momento, a história familiar alemã esteve em primeiro plano para Jennifer. Mas, no futuro, ela pretende também conhecer a África. E viajar para a Nigéria, a pátria de seu pai natural.

Fonte: DW

Documentário vai mostrar preconceito contra cabelo afrodescendente

Por: Redação Correio Nagô
30/09/2013
Universitários de Curitiba (PR) estão procurando mulheres que já ouviram comentários pejorativos em relação ao cabelo afro para participar do documentário "Qual é o Pente Que Te Penteia?".


Definido como uma produção universitária independente, o documentários, segundo a produção, tem como objetivo “mostrar a relação da mulher afrodescendente com o seu cabelo”.

“A ideia é traduzir a diversidade, as peculiaridades da afrodescendência, ressaltando esse elemento forte, que é o cabelo. Uniremos as imagens aos depoimentos das mulheres a respeito de episódios em que foram vítimas de comentários de origem racista”, ressaltam.
A produção está à procura de mulheres afrodescendentes que: já ouviram comentários pejorativos em relação ao seu cabelo afro; cresceram duvidando do próprio potencial de beleza em função de uma incorporação do comportamento racista ainda presente na sociedade; compreendem a intensidade do simples ato de soltar os cabelos e como isso pode reforçar a sua identidade e que queiram contar seus relatos.

Se a candidat se identifica com pelo menos um destes tópicos ou tem outro ponto interessante a ser sugerido e compartilhado, deve mandar email para opentequetepenteia@gmail.com ou preencher formulário no site http://opentequetepenteia.wix.com/opentenquetepenteia
As gravações estão previstas para o mês de outubro em Curitiba, em horários que serão agendados previamente com as voluntárias. Se a mulher mora em outra cidade ou outro estado, deverá entrar em contato para obter informações de como fazer pra participar.Redação Correio Nagô – Universitários de Curitiba (PR) estão procurando mulheres que já ouviram comentários pejorativos em relação ao cabelo afro para participar do documentário "Qual é o Pente Que Te Penteia?".
Definido como uma produção universitária independente, o documentários, segundo a produção, tem como objetivo “mostrar a relação da mulher afrodescendente com o seu cabelo”.

“A ideia é traduzir a diversidade, as peculiaridades da afrodescendência, ressaltando esse elemento forte, que é o cabelo. Uniremos as imagens aos depoimentos das mulheres a respeito de episódios em que foram vítimas de comentários de origem racista”, ressaltam.
A produção está à procura de mulheres afrodescendentes que: já ouviram comentários pejorativos em relação ao seu cabelo afro; cresceram duvidando do próprio potencial de beleza em função de uma incorporação do comportamento racista ainda presente na sociedade; compreendem a intensidade do simples ato de soltar os cabelos e como isso pode reforçar a sua identidade e que queiram contar seus relatos.

Se a candidat se identifica com pelo menos um destes tópicos ou tem outro ponto interessante a ser sugerido e compartilhado, deve mandar email para opentequetepenteia@gmail.com ou preencher formulário no site http://opentequetepenteia.wix.com/opentenquetepenteia
As gravações estão previstas para o mês de outubro em Curitiba, em horários que serão agendados previamente com as voluntárias. Se a mulher mora em outra cidade ou outro estado, deverá entrar em contato para obter informações de como fazer pra participar.


Fonte: Correio Nagô

Povo Tupinambá realiza caminhada em defesa de direitos e pela demarcação de terras


Por: Haroldo Heleno, de Olivença (BA), para CIMI
30/09/2013
Cerca de mil indígenas Tupinambá de Olivença e organizações da sociedade civil, estudantes, movimentos sociais e igrejas realizaram na última sexta-feira, dia 29, a XIII Caminhada dos Mártires Tupinambá, na cidade de Olivença, sul da Bahia.

O manifesto saiu da Igreja Nossa Senhora da Escada, no centro do município, às 9 horas, e se dirigiu até a praia do Cururupe, cerca de sete quilômetros de caminhada. A XIII caminhada, este ano, faz parte da Mobilização Nacional Indígena em defesa da Constituição, que no próximo dia 5 de outubro completará 25 anos.

A XIII Caminhada quer trazer a lembrança de um passado não muito distante e que não difere muito do momento atual pelo que passa o povo Tupinambá. A partir da recente luta do povo pelos seus direitos, e na defesa de suas terras, a perseguição e a violência da elite local voltam à tona de maneira preconceituosa e colonialista, tal como nos séculos passados.

Muitos ainda lembram-se das lutas e perseguições ocorridas entre as décadas de 1920 e 1930, quando ocorreram perseguições e violências contra as lideranças. Segundo os mais velhos, a “Revolta de Marcelino”, nome dado ao que ocorreu, foi porque ele não queria que fosse construída a ponte sobre o rio Cururupe. Os mais velhos contam que Marcelino era um grande líder Tupinambá e lutava contra a construção da ponte porque não queria que os índios de Olivença tivessem contato com os brancos e que ocorressem mais invasões em terras indígenas. O próprio Marcelino teve suas terras invadidas e viu parentes perderem terras, que foram tomadas por sítios de veraneio para os coronéis do cacau.

O fato que mais chama atenção na caminhada é a lembrança da conhecida “Batalha dos Nadadores”, quando o representante maior da elite brasileira na região, o então governador-geral do Brasil, Mem de Sá, no ano de 1559, desferiu um ataque contra os povos indígenas da região tendo como resultado a morte de milhares de índios. Os que foram retirados do mar, após serem mortos, foram estendidos na praia somando cerca de uma légua de corpos.

As intenções que movimentam as violências contra os Tupinambá seguem a mesma: as terras tradicionais, o fim do povo. As lideranças do povo seguem perseguidas: caluniadas, ameaçadas e têm seus nomes em listas de pistoleiros por defenderem suas comunidades e seus direitos garantidos na Constituição Federal.

O processo de identificação da Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença teve início em 2004. Em 2009, a Fundação Nacional do Índio (Funai) aprovou o relatório circunstanciado que delimitou a TI Tupinambá de Olivença em 47.200 hectares, estendendo-se por porções dos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una, no sul da Bahia. No momento, aguarda-se a assinatura, pelo ministro da Justiça, da portaria declaratória da TI, para que o processo encaminhe-se para as etapas finais. A demora na publicação da referida portaria tem causado um enorme clima de tensão e violência contra a comunidade indígena.

Mobilização Nacional Indígena

A XIII caminhada este ano faz parte da Mobilização Nacional em defesa da Constituição, que no próximo dia 05 de outubro completará 25 anos. A mobilização é convocada pela Articulação Nacional dos Povos Indígenas (APIB) e ocorrerão manifestações nas diversas regiões do país desta segunda, 30, até o próximo dia 5. Muitas faixas presentes na caminhada denunciavam os ataques que vêm ocorrendo aos direitos tão duramente conquistados pelos povos indígenas e por enquanto garantidos na Constituição. Digo, por enquanto, devido ao enorme perigo que correm diante da sanha voraz do agronegócio.

As entidades presentes na XIII caminhada divulgaram nota de apoio e solidariedade à luta do povo Tupinambá, onde pedem que providências urgentes sejam adotadas pelas autoridades constituídas no sentido de evitar que aproveitadores continuem utilizando-se de táticas de colocarem em confronto os principais atingidos por este impasse os indígenas e os pequenos agricultores. Solicitam a imediata publicação da portaria como forma de garantir os direitos dos indígenas e dos pequenos agricultores.

Numa das faixas exposta na caminhada o sentimento da comunidade estava muito bem definida e um claro recado aos governos federal e estadual: “Ei! Tirem as mãos das minhas terras, elas não são moedas de troca”. Uma fala do Henyo Trindade Barreto Filho, do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB), retrata claramente esta situação denunciada nas falas e nas faixas da XIII Caminhada Tupinambá:

“Um ataque articulado por representantes do agronegócio, do hidronegócio e das grandes corporações do setor de energia e mineração, que contam ora com o apoio explícito, ora com a omissão, ora com a conivência e/ou cumplicidade envergonhada do atual governo, e que visa desconstituir os territórios da diversidade no país para abri-los ao jogo dos seus interesses e à sua exploração. É um conjunto tão grande de medidas legislativas e executivas, que se eu começasse a enumerá-las aqui demoraria alguns dias para listar todas e explicar os seus significados subjacentes e repercussões”.

Portanto, as faixas que repudiavam as PEC 215, PLP 227, Portaria 303 da AGU, presentes na caminhada, demonstram claramente a insatisfação e preocupações das lideranças indígenas, com estes instrumentos de negação de seus direitos. Ao mesmo tempo em que se percebe o enorme e iminente perigo que corre os direitos indígenas na Constituição Federal.

Fonte: Combate Racismo Ambiental

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Carta à Mãe África - Documentário

Documentário sobre a questão racial no Brasil a partir da letra da música "Carta A Mãe África" do rapper brasiliense GOG.

O Circo - Episódio IV [Aborígine]

O vídeo acima integra a Campanha Diversidade Viva, trabalho realizado pelo Rapper Aborígine, ao qual ministra oficinas de formação em Direitos Humanos e respeito à diversidade em escolas públicas do Distrito Federal, a partir da música O Circo.

Trata-se do 4º episódio integra o documentário e vídeo clipe O Circo. Com produção do Coletivo Nakaradura o trabalho pretende sensibilizar e formar criticamente seus ouvintes, e assim como a canção, oferecer um convite à transformação.

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda para sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender e se podem aprender a odiar, também devem ser ensinadas a amar." Nelson Mandela.

FICHA TÉCNICA

Artista: Aborígine
Música: O Circo
Produção musical: Diego 157

Produção audiovisual: Nakaradura Produções
Direção: Alan Mano K
Produção: Julyana Duarte, Alice Silva.
Imagens: Alan Mano K , Julyana Duarte, Alice Silva.

Apoio: Teatro H2O e Cia Teatral Roupa de Ensaio
Participação: Letícia

Download: http://palcomp3.com/aborigine/o-circo...

CONTATOS

061 - 9602 6711
061 - 3209 6711

E-mail: contatoaborigine@gmail.com
Blog: aboriginerap.blogspot.com

O Circo - Episódio III [Aborígine]

Os fatos sociais são formados pelas representações coletivas. Isto é, "como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia" ou seja através de nossas ações e idéias. Idéias estas que permeiam a nossa sociedade acerca de grupos e subgrupos.

Essas representações coletivas são produto da cooperação que se estende não apenas no espaço mas também de fato no tempo.

Infelizmente por vezes algumas concepções ideológicas se voltam para alguns sujeitos, que são mantidos na invisibilidade, justamente para não terem o poder de decisão ou até para que suas vozes sejam caladas.

O Rap em contrapartida é utilizado como instrumento paradidático, para regulação e manutenção de nossas aspirações enquanto sujeitos históricos a um mundo mais justo e tolerante.

E para fazê-las utilizamos a mistura e combinação de ideias, ações cotidianas e sentimentos.

O mais nova música do artista Aborígine intitulada: "O Circo", nos leva a questionar até onde somos marionetes nas mãos e mentes disseminadoras de falsas ideias em relação aos cidadãos e cidadãs de nossa sociedade, a qual tem por slogan: " Brasil um país de todos!"

Se é de todos então eu, você, eles e elas estamos incluídos e convocados a reescrevermos a nossa história!

"Uma mentira pode estragas mil verdades"
Provérbio: Africano

O vídeo acima integra a Campanha Diversidade Viva, trabalho realizado pelo Rapper Aborígine, ao qual ministra oficinas de formação em Direitos Humanos e respeito à diversidade em escolas públicas do Distrito Federal, a partir da música O Circo.

FICHA TÉCNICA

Artista: Aborígine
Música: O Circo
Produção musical: Diego 157

Produção audiovisual: Nakaradura Produções
Direção: Alan Mano K
Produção: Julyana Duarte, Alice Silva, Thalyne Valcácio.
Imagens: Alan Mano K , Julyana Duarte

Apoio: Cia Teatral Roupa de Ensaio, Espaço cultural Imaginário.
Participação e texto: Cleonice Ramilo

Download: http://palcomp3.com/aborigine/o-circo...

CONTATOS

061 - 9602 6711
061 - 3209 6711

E-mail: contatoaborigine@gmail.com
Blog: aboriginerap.blogspot.com

O Circo - Episódio II [Aborígine]

O vídeo acima integra a Campanha Diversidade Viva, trabalho realizado pelo Rapper Aborígine, ao qual ministra oficinas de formação em Direitos Humanos e respeito à diversidade em escolas públicas do Distrito Federal, a partir da música O Circo.
Trata-se do 2º Episódio do documentário e vídeo clipe O Circo, que será disponibilizado em abril deste ano. Com produção do Coletivo Nakaradura o trabalho pretende sensibilizar e formar criticamente seus ouvintes, e assim como a canção, oferecer um convite à transformação e respeito a nosso diversidade.
" R.A.P. As vezes lembramos muito do Ritmo e da Poesia e esquecemos do AMOR. Mais Amor! Muito Amor! A tod@s os envolvid@s!" Por Renan - Grupo Inquérito

FICHA TÉCNICA
Artista: Aborígine
Música: O Circo
Produção musical: Diego 157
Produção audiovisual: Nakaradura Produções
Direção: Alan Mano K
Produção: Julyana Duarte, Alice Silva.
Imagens: Alan Mano K , Julyana Duarte, Alice Silva.
Apoio: Teatro H2O e Cia Teatral Roupa de Ensaio
Participação: Jéssica de Fátima Neponuceno
Download: http://palcomp3.com/aborigine/o-circo...

O Circo - Episódio I [Aborígine]

O vídeo acima integra a Campanha Diversidade Viva, trabalho realizado pelo Rapper Aborígine, ao qual ministra oficinas de formação em Direitos Humanos e respeito à diversidade em escolas públicas do Distrito Federal, a partir da música O Circo.

Este primeiro episódio integra o documentário e vídeo clipe O Circo, que será disponibilizado em 12 de abril de 2013. Com produção do Coletivo Nakaradura o trabalho pretende sensibilizar e formar criticamente seus ouvintes, e assim como a canção, oferecer um convite à transformação.

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda para sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender e se podem aprender a odiar, também devem ser ensinadas a amar." Nelson Mandela.

FICHA TÉCNICA

Artista: Aborígine
Música: O Circo
Produção musical: Diego 157

Produção audiovisual: Nakaradura Produções
Direção: Alan Mano K
Produção: Julyana Duarte, Alice Silva.
Imagens: Alan Mano K , Julyana Duarte, Alice Silva.

Apoio: Teatro H2O e Cia Teatral Roupa de Ensaio
Participação: Eloisa Ferreira Machado

Download: http://palcomp3.com/aborigine/o-circo...

CONTATOS

061 - 9602 6711
061 - 3209 6711

E-mail: contatoaborigine@gmail.com
Blog: aboriginerap.blogspot.com

Prêmio Curta Histórias


Por: Redação
23/09/2013
O Prêmio “Curta Histórias” é uma iniciativa do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI e em parceria com a Fundação Vale, Fundação Telefônica, Associação Casa da Árvore, SEBRAE e UNESCO.

O objetivo é incentivar talentos e estimular o desenvolvimento das atividades pedagógicas, cinematográficas de cunho cultural e educativo em escolas públicas brasileiras, com a valorização da Educação das Relações Étnico-Raciais e a implementação da Lei Federal nº 10.639/03 que completa 10 anos de vigência em 2013.

Realizar um festival de curtas-metragens em escolas públicas (estaduais e municipais) é uma forma de garantir a implementação da Lei 10.639/03 nos espaços escolares, bem como de fortalecer a luta contra a discriminação racial no Brasil, visto que ele gerará discussão e estudo no ambiente escolar a respeito de um assunto de suma importância. Além disso, a realização de um Festival de curtas-metragens associado a temas de cunho pedagógico possibilita reconhecer o potencial das tecnologias de informação e
comunicação para a construção do conhecimento a partir da relação entre os
campos da educação, comunicação e cultura digital.

Para que sua escola participe, você deve acessar o website site do prêmio (www.curtahistorias.org) e conferir o Regulamento.



Fonte: Curta Histórias

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

vestibular, publicidade e racismo

Tempos atrás, li o resultado de uma Pesquisa da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, que apontava o crescimento da presença negra na publicidade nos últimos anos. A pesquisa reafirmava o que percebemos a olho nu: o crescimento da presença negra na publicidade não está acompanhado de um avanço na representação mais positiva do sujeito. O estudo do pesquisador Carlos Augusto de Miranda e Martins mostra que os negros ainda são associados a estereótipos negativos surgidos no século XIX, quando as teses do racismo científico foram introduzidas no Brasil. Racismo e preconceito estão presentes no cotidiano da publicidade brasileira. Salvo raras exceções, a publicidade atua a partir de duas possibilidades: Invisibilizar o corpo negro ou apresentá-lo de maneira depreciativa, pejorativa e preconceituosa. A segunda hipótese presta um serviço ao menos: gera maior reação. Uma das peças publicitárias de divulgação do Vestibular 2014 da PUC-PR – que traz como slogan #sejaplural, é emblemática e sugere questões: Por que só ele não tem mochila e caderno? Por que um apenas, entre os muitos brancos? Por que só ele é apresentado a partir de um julgamento social preconcebido? A princípio não seria um problema em si, a presença de um “mano”, entre os postulantes às vagas na PUC-PR. Ele poderia estar acompanhado de outros negros, caracterizados como atletas interessados no curso de Educação Física, bem como ao lado de negros engravatados em alusão aos cursos de Direito ou Administração. Estes todos juntos a jovens brancos, também caracterizados, porque não? Mas, neste caso como em inúmeros outros, a presença negra tentou garantir apenas o politicamente correto e o respeito a “cota de um”: um negro – no máximo, “para não dizer que somos racistas”! E teriam alcançado sucesso, não fosse o forte teor preconceituoso na forma como o jovem negro está colocado. Afinal, um preto que fura o bloqueio e ocupa o espaço exclusivamente branco já significaria um avanço, certo? Compreender o que está por trás da permanente degradação da imagem da população negra em todos os espaços sociais, em especial na propaganda e nas mídias em geral, não é tarefa simples. Os quase 400 anos de escravidão da população negra nos deixaram marcas profundas e presentes até hoje. O brilhante trabalho de Carlos Augusto de Miranda e Martins, intitulado “Negro, publicidade e o ideal de branqueamento da sociedade brasileira”, nos ajuda a compreender: Fato é que, ao valorizar a cultura e o biótipo europeu ao mesmo tempo em que escamoteava e estigmatizava os componentes negros da sociedade, o Brasil acabou por criar um registro branco de si mesmo, estabelecendo um modelo de representação no qual os brancos passaram a concentrar todas as características positivas possíveis, enquanto o negro tornava-se a negação de tudo isso. E esse registro tornou-se um instrumento de dominação que atravessou o século e chegou, remodelado, aos dias de hoje: O aparelho ideológico de dominação da sociedade escravista gerou um pensamento racista que perdura até hoje. Como a estrutura da sociedade brasileira, na passagem do trabalho escravo para o trabalho livre, permaneceu basicamente a mesma, os mecanismos de dominação inclusive ideológicos foram mantidos e aperfeiçoados (MOURA, 1988, p.23). Isso significa, portanto, que a perpetuação de imagens negativas do negro durante o século XX contribuiu para a manutenção de uma hierarquização social não mais garantida pela escravidão, e sim por fatores econômicos. O novo século assiste ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, que por nascerem já orientados pelos padrões eurocêntricos forjados no século XIX, acabaram por substituir os antigos instrumentos de performatização das representações sobre o negro, tornando-se, então, mecanismos atualizados de dominação. Isso implicou também na atualização das representações. As imagens do escravo bom e fiel, do negro violento e degenerado e mesmo o exótico-bestial tão presentes na produção cultural oitocentista aparecem na mídia reelaboradas e transformadas, por exemplo, no trabalhador braçal, no criminoso, no sambista. A mídia não somente atualiza a distância que separava, na escravidão, a elite do povo, mas nega, com seu exclusivismo, as identidades culturais afro-brasileira e indígena, as quais não têm acesso, em pé de igualdade, às programações televisiva e radiofônica (D´ADESKY, 2001, p. 93-94). No espaço de comentário no post de divulgação no Facebook da PUC-PR, uma nota: “Em nenhum momento o objetivo das ilustrações foi estereotipar os personagens – todos são alunos e sentimos muito por qualquer tipo de taxação”. Ora, se espera muito mais de Universidade com a importância da PUC, no mínimo, uma retratação pública mais consistente e convincente além, evidentemente, da retirada imediata desta peça de publicidade. Importante lembrar que a campanha expressa nesta peça publicitária coloca-se na contramão da tendência nacional de valorização e resignificação da imagem, cultura e história da comunidade afrobrasileira, sendo essa inclusive premissa para a elaboração de diversas políticas públicas em todos os níveis e que o fato pode ser entendido e caracterizado como grave prática de racismo institucional. “Estereotipar os personagens” não foi o objetivo, diz a PUC-PR. Ora, mas foi o que de fato se fez! E o que importa ao agredido o não querer do agressor?

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

https://docs.google.com/viewer?attid=0.1&pid=gmail&thid=141183ccd25c1494&url=https%3A%2F%2Fmail.google.com%2Fmail%2Fu%2F0%2F%3Fui%3D2%26ik%3Dc841e488e6%26view%3Datt%26th%3D141183ccd25c1494%26attid%3D0.1%26disp%3Dsafe%26realattid%3Dfc42bc7980548cf3_0.1%26zw&docid=a4b38689b459407c77b9f62f3501ca31%7Ccef06205675071f6f7c8d707fcdef8de&a=bi&pagenumber=1&w=800

Crime e preconceito: mães e filhos de santo são expulsos de favelas por traficantes evangélicos

Por: Rafael Soares 11/09/2013 A roupa branca no varal era o único indício da religião da filha de santo, que, até 2010, morava no Morro do Amor, no Complexo do Lins. Iniciada no candomblé em 2005, ela logo soube que deveria esconder sua fé: os traficantes da favela, frequentadores de igrejas evangélicas, não toleravam a “macumba”. Terreiros, roupas brancas e adereços que denunciassem a crença já haviam sido proibidos, há pelo menos cinco anos, em todo o morro. Por isso, ela saía da favela rumo a seu terreiro, na Zona Oeste, sempre com roupas comuns. O vestido branco ia na bolsa. Um dia, por descuido, deixou a “roupa de santo” no varal. Na semana seguinte, saía da favela, expulsa pelos bandidos, para não mais voltar. - Não dava mais para suportar as ameaças. Lá, ser do candomblé é proibido. Não existem mais terreiros e quem pratica a religião, o faz de modo clandestino - conta a filha de santo, que se mudou para a Zona Oeste. A situação da mulher não é um ponto fora da curva: já há registros na Associação de Proteção dos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita de pelo menos 40 pais e mães de santo expulsos de favelas da Zona Norte pelo tráfico. Em alguns locais, como no Lins e na Serrinha, em Madureira, além do fechamento dos terreiros também foi determinada a proibição do uso de colares afro e roupas brancas. De acordo com quatro pais de santo ouvidos pelo EXTRA, que passaram pela situação, o motivo das expulsões é o mesmo: a conversão dos chefes do tráfico a denominações evangélicas. Atabaques proibidos na Pavuna A intolerância religiosa não é exclusividade de uma facção criminosa. Distante 13km do Lins e ocupada por um grupo rival, o Parque Colúmbia, na Pavuna, convive com a mesma realidade: a expulsão dos terreiros, acompanhados de perto pelo crescimento de igrejas evangélicas. Desinformada sobre as “regras locais”, uma mãe de santo tentou fundar, ali, seu terreiro. Logo, recebeu a visita do presidente da associação de moradores que a alertou: atabaques e despachos eram proibidos ali. -Tive que sair fugida, porque tentei permanecer, só com consultas. Eles não gostaram — afirma. A situação já é do conhecimento de pelo menos um órgão do governo: o Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine), empossado pelo próprio governador. O presidente do órgão, Roberto dos Santos, admite que já foram encaminhadas denúncias ao Cedine: - Já temos informações desse tipo. Mas a intolerância armada só pode ser vencida com a chegada do estado a esses locais, com as UPPs. O deputado estadual Átila Nunes (PSL) fez um pedido formal, na última sexta-feira, para que a Secretaria de Segurança investigue os casos. - Não se trata de disputa religiosa mas, sim, econômica. Líderes evangélicos não querem perder parte de seus rebanhos para outras religiões, e fazem a cabeça dos bandidos — afirma. Nas favelas, os "guerreiros de Deus" Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, chefe do tráfico no Morro do Dendê, ostenta, no antebraço direito, a tatuagem com o nome de Jesus Cristo. Pela casa, Bíblias por todos os lados. Já em seus domínios, reina o preconceito: enquanto os muros da favela foram preenchidos por dizeres bíblicos, os dez terreiros que funcionavam no local deixaram de existir. Guarabu passou a frequentar a Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai em 2006 e se converteu. A partir daí, quem andasse de branco pela favela era “convidado a sair”. Os pais de santo que ainda vivem no local não praticam mais a religião. A situação se repete na Serrinha, ocupada pela mesma facção. No último dia 22, bandidos passaram a madrugada cobrindo imagens de santos nos muros da favela. Sobre a tinta fresca, agora lê-se: “Só Jesus salva”. O babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), criada justamente após casos de intolerância contra religiões afro-brasileiras em 2006, afirma que os casos serão discutido pelo grupo, que vai pressionar o governo e o Ministério Público para que a segurança do locais seja garantida e os responsáveis pelo ato sejam punidos. “Essas pessoas são criminosas e devem ser punidas. Cercear a fé é crime”, diz o pai de santo. Lei mais severa Desde novembro de 2008, a Polícia Civil considera como crimes inafiançáveis invasões a templos e agressões a religiosos de qualquer credo a Lei Caó. A partir de então, passou a vigorar no sistema das delegacias do estado a Lei 7.716/89, que determina que crimes de intolerância religiosa passem a ser respondidos em Varas Criminais e não mais nos Juizados Especiais. Atualmente, o crime não prescreve e a pena vai de um a três anos de detenção. Filha de santo, que foi expulsa do Lins: "Não suportava mais fingir ser o que não era". - Me iniciei no candomblé em 2005. A partir de minha iniciação, comecei a ter problemas com os traficantes do Complexo do Lins. Quando cheguei à favela de cabeça raspada, por conta da iniciação, eles viravam o rosto quando eu passava. Com o tempo, as demostrações de intolerância aumentaram. Quando saía da favela vestida de branco, para ir ao terreiro que frequento, eles reclamavam. Um dia, um deles veio até a minha casa e disse que eu estava proibida de circular pela favela com aquelas “roupas do demônio”. As ameaças chegaram ao ponto de proibirem que eu pendurasse as roupas brancas no varal. Se eu desrespeitasse, seria expulsa de lá. No fim de 2010, dei um basta nisso. Não suportava mais fingir ser o que eu não era e saí de lá. Mãe de santo há 30 anos, expulsa da Pavuna: ‘Disseram que quem mandava ali era o ‘Exército de Jesus”. - Comprei, em 2009, um terreno no Parque Colúmbia, na Pavuna. No local, não havia nada. Mas eu queria fundar um terreiro ali e comecei a construir. No início, só fazia consulta, jogava búzios e recebia pessoas. Não fazia festas nem sessões. Não andava de branco pelas ruas nem tocava atabaque, para não chamar a atenção. Um dia, o presidente da associação de moradores foi até o local e disse que o tráfico havia ordenado que eu parasse com a “macumba”. Ali, quem mandava na época era a facção de Acari. Já era mais de santo há 30 anos e não acreditei naquilo. Fui até a boca de fumo tentar argumentar. Dei de cara com vários bandidos com fuzis, que disseram que ali quem mandava era o “Exército de Jesus”. Disse que tinha acabado de comprar o terreno e que não iria incomodar ninguém. Dias depois, cheguei ao terreiro e vi uma placa escrito “Vende-se” na porta — eles tomaram o terreno e o puseram a venda. Não podia fazer nada. Vendi o terreno o mais rapidamente possível por R$ 2 mil e fui arrumar outro lugar. Fonte: Extra 15

Resenha: As novas formas de expressão do preconceito e do racismo

O objetivo do texto é analisar as novas formas de expressão do preconceito e do racismo que se manifestam nas sociedades formalmente democráticas e que começaram a surgir após as mudanças sociais decorrentes dos direitos civis e da declaração dos Direitos Humanos. Para isto, os autores analisam os racismos simbólico e moderno, da Austrália e dos Estados Unidos, o racismo ambivalente, dos Estados Unidos, o preconceito sutil, da Europa, e o racismo cordial, do Brasil. Por: Gilcimar Santos Dantas Para os autores, dentre as várias formas possíveis de preconceito, existe uma que é peculiar e que se dirige a grupos com características físicas supostamente herdadas. Neste sentido, o racismo possuiria processos de hierarquização, exclusão e discriminação a partir de características físicas externas, mas se diferenciaria do preconceito porque além de possuir as características acima, este não existe apenas em um nível individual, mas também institucional e cultural. Ou seja, o racismo não seria apenas uma atitude, mas também englobaria processos de discriminação e de exclusão social. Neste caso, os autores trabalham as novas formas de racismo a seguir. O racismo simbólico seria uma forma de resistência a mudanças no status quo das relações raciais, na qual as atitudes contra os negros seriam, muito mais, decorrentes de uma percepção de ameaça aos valores e à cultura do grupo dominante do que de uma noção de ameaça econômica. O racismo moderno se baseia nas crenças de que o racismo é uma coisa do passado, de que os negros estão subindo rapidamente em espaços aonde não são bem vindos e que os meios e as demandas dos negros são injustos e que as instituições estão lhe dando muito crédito. Segundo o racismo aversivo, pessoas brancas, ao entrarem em contato com pessoas negras, elas não as discriminariam, pelo contrário, elas as tratariam de modo igualitário, mas quando há um contexto no qual se justifica a discriminação, essas mesmas pessoas discriminariam indivíduos negros. O racismo ambivalente possui duas orientações que podem gerar conflito ou ambivalência por parte de quem faz o julgamento. Sendo assim, pessoas brancas podem sentir simpatia pelos negros ao aderirem a valores humanitários e de igualdade. Por outro lado, a adesão a valores individualistas levaria os brancos a verem os negros como desviantes destes mesmos valores. O racismo sutil seria uma forma mais velada de racismo que se caracteriza pelas crenças de defesa dos valores tradicionais, pelo exagero das diferenças culturais e pela negação de emoções positivas aos membros do exogrupo. O racismo cordial, típico do Brasil, decorre do mito da democracia racial e da ideologia do branqueamento. Seria um racismo sem intenção e, às vezes, de brincadeira, mas que exerce influência negativa na vida das pessoas negras. Sobre a discussão a respeito das formas abertas de racismo, o Brasil parece estar em uma condição diferente. Os estudos sobre formas mais sutis e ambíguas de racismo nos Estados Unidos e na Europa mostram que esta forma de preconceito começa a surgir no início da segunda metade do século XX. Entretanto, no Brasil, as formas sutis de racismo já começam a entrar em prática no fim do século XIX quando se tenta trabalhar em uma forma de lidar com um país recém-saído da escravização (Azevedo, 1988). Ideias de que o Brasil é um país igualitário aonde pessoas de todas as raças convivem de modo harmônico, que os maiores problemas do país são de ordem econômica e que aqueles que tentam discutir as diferenças com base na questão racial são causadores de problema é algo antigo e não só defendido pelos mais conservadores. O que parece (principalmente após o surgimento das políticas de Ações Afirmativas) é que muitos brasileiros tem caminhado na direção contrária em relação à questão racial, contradizendo uma perspectiva que foi mantida com muito orgulho durante muito tempo. Pode-se ter como exemplo as reações contrárias à política de cotas com protestos nas ruas, artigos nos jornais, produções de livros e falas públicas de pessoas famosas. O racismo velado já existia há muito tempo no Brasil, disfarçado pela cordialidade. A suposição é que, de certa maneira, ele tem mostrado seu lado mais explícito à medida que grupos não dominantes têm trabalhado para mudar essa realidade. Referências: Lima, M. E. O. e Vala, J. (2004). As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de psicologia, 3, 401-411. Azevedo, C., M., M. (1989). Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites do século XIX. Anamblume. São Paulo. Fonte: Estereotipos

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Representação de negros nos quadrinhos segue estereótipos, revela pesquisa

Existe estereotipização na forma como os negros são retratados nas histórias em quadrinhos (HQ) brasileiras. Segundo pesquisa realizada na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o fato pode ser observado desde o século 19. O pesquisador e professor Nobuyoshi Chinen avaliou em seu estudo de doutorado histórias em quadrinhos publicadas no Brasil desde 1869, considerando como publicação inicial o título "Nhô Quim", de Angelo Agostini, até publicações de 2011. "Historicamente, as representações seguiam um padrão comum e exagerado", afirma. "Elas tendiam a homogeneizar o aspecto visual dos personagens", diz Chinen. Os estereótipos foram identificados não só nos aspectos visuais, mas também nos papéis desempenhados nas histórias, em comparação com os personagens brancos. "Invariavelmente [os negros] eram subalternos, intelectualmente limitados e socialmente desfavorecidos" conta. O pesquisador diz que a origem dessa forma de representar vem dos minstrels americanos, artistas brancos que, para se apresentar como negros, pintavam o rosto com tinta preta, entre outras caracterizações exageradas. Chinen alega que percebeu ser impossível quantificar quantos personagens negros havia em todas as publicações brasileiras de quadrinhos, e que isso também não seria representativo. "Eu havia partido de uma premissa equivocada de que um produto de cultura de massa deveria refletir proporcionalmente a sociedade. Mas isso não ocorre necessariamente. Em termos proporcionais, certamente, há muito mais detetives nos quadrinhos do que na vida real" esclarece. Chinen também procurou outros tipos de publicações para avaliar o papel dos negros nos quadrinhos. "Achei que devia dar um contexto mais amplo e me preocupei em incluir um breve histórico da iconografia do negro nas artes visuais, desde a primeira pintura a representar um negro no Brasil, em tela feita pelo holandês Frans Post, até as caricaturas e charges do Período Imperial." Segundo o pesquisador, também foi difícil abranger toda a criação brasileira de HQ. "Não existe um acervo completo de tudo o que foi lançado em quadrinhos no país e as coleções que mais se aproximam disso pertencem a particulares, o que dificulta o acesso." Poucos personagens Ainda assim, Chinen encontrou mais personagens negros do que inicialmente esperado. A representação, no entanto, não é, ainda, ideal. "Embora o panorama geral tenha mudado de uns tempos para cá, penso que ainda há poucos personagens negros nos quadrinhos brasileiros e menos ainda os que têm papel de protagonista" diz. As HQ têm como algumas de suas bases a caricatura e o humor. Isso, em algumas vezes, se dá com o reforço de traços exagerados e com generalizações. Para Chinen, "o perigo dos estereótipos é quando o público passa a achar que determinado tipo de figuração é normal, quando na verdade é ofensiva. É da natureza do humor construir situações que requerem uma dose de crueldade perpetrada sobre o outro e o limite entre o fazer rir e o humilhar é extremamente sutil". A representação equivocada de negros nas HQ, para o pesquisador, auxilia, como todo produto de comunicação em massa, a perpetuação de preconceitos. O professor acredita que trabalhos como o seu ajudam a debater o racismo presente nas representações do negro na sociedade. "A princípio eu tentei evitar uma abordagem que fugisse do âmbito das histórias em quadrinhos, mas no decorrer da pesquisa, compreendi que não dava para ignorar os aspectos sociopolíticos e a questão da identidade." Entre as HQ que Chinen destaca, estão séries criadas pelo cartunista Mauricio Pestana, sobre a participação negra em revoltas brasileiras, além dos personagens Luana, criada por Aroldo Macedo, e Aú, O Capoerista, criado por Flávio Luiz. A pesquisa, iniciada em 2008, inicialmente como um mestrado, foi orientada pelo professor Waldomiro de Castro Santos Vergueiro e encerrada em 2013. Chinen faz parte do Observatório de Quadrinhos da ECA. Fonte: Correio Nagô

Racismo, miscigenação e casamentos interraciais no Brasil

Os números dos casamentos interraciais, da composição racial dos universitários ou das estatísticas de vítimas de violência só comprovam nosso racismo e nosso machismo Por Alex Castro, no Blogueiras Feministas Uma típica família brasileira branca, de classe média baixa e incorporando todos os pressupostos racistas da nossa cultura, talvez corresse a bala o garçom negro que ousasse dar em cima da filhinha caçula, ou a doméstica negra querendo casar com o branquelo primogênito (Imagem: http://luacheiaeventosrp.blogspot.com.br/) Quando escrevo sobre racismo no Brasil, muitos leitores (em profunda denegação) argumentam que não somos racistas e citam como evidência nossa “miscigenação”, nossos casamentos interraciais. Um email típico que recebo: aqui nos Estados Unidos, se voce é negro, voce pode ser famoso, rico, o que for: quando você casar com a loira de olho azul de Kennebunkport, Maine, NINGUÉM vai achar bonito. No Brasil, se você é negro e pobre e é exatamente como o Ronaldo Fenômeno, voce é negro e pobre. Quando voce vira famoso e rico (exatamente como o Ronaldo), voce é OK.Se você casa com a loira, a família dela acha lindo! Se alguém disser que isso é mentira, eu sou todo ouvidos pra explicação. Como não é, o Brasil é um país classista, placist, acima de tudo. Agora, racismo e preconceito existe no mundo todo, sempre existiu, sempre vai existir. Nao existe lugar que é 100% racism/prejudice free. Mas usar isso como argumento é não querer ver o problema principal. No país onde Pelé namorou a Xuxa (a mulher mais branca do brasil, e segundo o Chico Buarque, a única branca) e todo mundo achou bonito, digam: se Pelé fosse pobre, o que vocês achariam? Pois é… Eu devo mesmo entender tudo errado. Pra mim, isso só prova que, no Brasil, o racismo está à venda. * * * Sim, existem muitos casamentos interraciais no Brasil mas, na maioria deles (5 em 6, segundo o livro“Racismo à Brasileira: Uma Nova Perspectiva Sociológica”, de Edward Telles), o cônjuge negro tem status socioeconômico superior. O fenômeno já foi estudado em outras sociedades tão racistas quanto a nossa e, em inglês, se chama“status exchange in interracial marriage“. Basicamente, de acordo com Telles, indivíduos da raça socialmente considerada inferior (no nosso país, os negros) mas que estejam em posição de superioridade social, educacional ou financeira podem “trocar” sua pretensa/percebida “inferioridade racial” e “superioridade socioeconômica” pela pretensa/percebida “superioridade racial” mas “inferioridade socioeconômica” dos indivíduos pobres da raça considerada superior (no nosso país, os brancos). Os dados matrimoniais revelados por Telles sugerem que, devido ao racismo estrutural da nossa sociedade, os cônjuges negros teriam um status percebido tão baixo no “mercado matrimonial” que seriam obrigados a pagar um alto preço para obter casamentos “vantajosos” (“marry up”) com parceiros mais claros. De um modo economicamente bem real, sua cor já seria uma desvantagem tão grande que precisam de muitas outras vantagens compensatórias (maior escolaridade, maior renda, etc) para poder competir em pé de igualdade. Uma típica família brasileira branca, de classe média baixa e incorporando todos os pressupostos racistas da nossa cultura, talvez corresse a bala o garçom negro que ousasse dar em cima da filhinha caçula, ou a doméstica negra querendo casar com o branquelo primogênito. Por outro lado, um médico negro, uma profissional liberal negra, com carro na garagem e TV de plasma, talvez não fosse tão ruim assim. Talvez. A segurança financeira e ascensão social percebidas talvez compensasse o tabu de unir-se a alguém da raça considerada “inferior”. O Brasil é um país racista. Quando digo isso, muitos leitores se sentem atacados, como se eu tivesse chamado todos os brasileiros de racistas, mas uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra. Ênfase em necessariamente. O fenômeno social descrito acima, por exemplo, é extremamente racista, porém nenhum de seus atores poderia ser propriamente chamado de racista. Ninguém é obrigado a casar com ninguém. Não podemos chegar para moça branca e brandir um dedo na sua cara, acusando-a de racista por ter preferido o médico negro ao pardo carpinteiro que namorou antes. Não podemos chegar para o médico negro e brandir um dedo na sua cara, acusando-o de racista por ter se casado com uma branca pobre, ao invés de escolher “uma mulher da sua cor”! Nenhuma dessas pessoas (necessariamente) é racista, ou é canalha, ou está errada, ou merece repreensões. Observar os casos individuais não resolve nada. As pessoas são livres e casam com quem querem. Entretanto, quando olhamos para os números de modo geral, é impossível não ver nesse fenômeno matrimonial um dos sintomas mais gritantes do racismo brasileiro. Somente o fato de o Brasil ter muitos casamentos interraciais não prova que o país não é racista. Mas, pelo contrário, a dinâmica desses casamentos comprova, mais uma vez, a sobrevalorização do branco e a estigmatização do negro em nossa cultura racista. * * * De acordo com Telles, o elo mais fraco da corrente são as mulheres negras, vítimas de preconceito duplo: por serem mulheres e por serem negras. Como existem mais mulheres do que homens, já existe uma maior probabilidade estatística das mulheres ficarem mais solteiras que os homens. As brancas superam o déficit de homens brancos casando com os pardos; as pardas, com negros, e assim sucessivamente ao longo do espectro das cores, até que, obviamente, faltam negros para as negras – que não têm literalmente ninguém “abaixo” delas. Ou, pelo menos, é isso que sugerem as pesquisas do sociólogo Edward Telles sobre a dinâmica dos casamentos interraciais no Brasil. O número de mulheres brancas casando com homens pardos é muito superior ao número de homens brancos casando com mulheres pardas, e assim sucessivamente. Mais alguns dados extraídos de “Racismo à Brasileira: Uma Nova Perspectiva Sociológica”: Mulheres brancas passam em média 65% de suas vidas casadas, contra 50% das negras; 51% dos homens negros se casam com pessoas de outras raças, contra somente 40% das mulheres negras. No Brasil, por causa da perversa hierarquia racial e sexual, quem acaba sobrando na dança das cadeiras matrimonial são as negras. Naturalmente, não se está dizendo que todas as pessoas querem casar ou que o casamento seja a medida do sucesso de um ser humano, mas somente que os dados de Telles indicam, mais uma vez, que de todos os players do mercado matrimonial brasileiro, as mulheres negras são as que têm menos opções, são as que casam menos e são as que passam menos tempo casadas. * * * O Brasil gosta de se pensar vivendo em uma democracia racial. Adora bater no peito e citar que nossa miscigenação e nossos casamentos interraciais provam que não somos racistas. Mas até mesmo a própria dinâmica desses casamentos interraciais só faz comprovar tanto o machismo quanto o racismo estruturais da sociedade brasileira. São sempre os negros que terminam morrendo mais cedo, sendo mais presos, ganhando menos. São sempre as mulheres que terminam trabalhando mais, ganhando menos, sofrendo mais violências. E, quando analisamos os números dos casamentos interraciais no Brasil, cujo mercado matrimonial acontece num contexto profundamente machista e racista, são as mulheres negras, duplamente subalternas, que sofrem mais. Para onde quer que olhemos, seja para os números dos casamentos interraciais, para a composição racial dos universitários ou para as estatísticas de vítimas de violência, todos os números só fazem comprovar nosso racismo e nosso machismo. Alguns brasileiros gostam de se enganar dizendo: “Se fôssemos racistas mesmo não seríamos miscigenados. Racistas são os norte-americanos que não se misturam.” Não é verdade. Racistas são os dois. No Brasil, a existência da categoria racial “mulato” é tanto causa como consequência da ideologia de mestiçagem/branqueamento, e não um resultado automático da mistura de raças. A miscigenação, por si só, não cria “miscigenados” ou “mestiços” ou “mulatos” ou qualquer que seja o termo inventado para classificar as pessoas que são produto da união de indivíduos de raças diferentes. Nos Estados Unidos, por mais deles que existam, são simplesmente classificados de “negros”, e pronto. Taí o presidente Obama que não me deixa mentir. Não existe nenhuma contradição entre ser um “país mestiço” e ser um país racista. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são países profundamente mestiços e profundamente racistas. A única coisa que muda é como cada cultura escolheu chamar as pessoas de raça misturada: os norte-americanos chamam de “negro” quem tem uma gota de sangue negro; os brasileiros inventaram inúmeros termos para todas as matizes de cor. O racismo é o mesmo. * * * Quando publiquei uma versão original desse texto, muitos anos atrás, diversos leitores não conseguiram comentar. Depois de algum tempo, descobri o motivo: para evitar o spam de comentários, o sistema tinha uma lista de palavras muito usadas pelos spammers e qualquer comentário com alguma delas não era publicado. De repente, me bateu um estalo e fui conferir a lista. Estava lá: “interracial”. Ou seja, qualquer leitor que tentou escrever um comentário com essa palavra (o próprio tema do artigo!) não conseguiu comentar. Spammers usam muito essa palavra em seus anúncios porque existem muitos sites pornôs sobre isso. E existem muitos sites pornôs sobre isso (e seções inteiras nos sex shops norte-americanos só de filmes pornôs interraciais) porque esse tema é recorrente e fortíssimo na cultura racista norte-americana. Ou seja, a própria presença da palavra “interracial” na lista negra não seria coincidência: na verdade, ela ilustra o próprio tema do artigo. De acordo com os estereótipos racistas em voga nos Estados Unidos (e no Brasil também), o negro seria sempre bestial e sexual, desejado e temido, seja ele o negão bem-dotado ou a negona insaciável. Não por acaso, a cultura racista norte-americana ao mesmo tempo em que fetichiza muito mais o sexo interracial que a brasileira, também apresenta muito menos casamentos interraciais. Naturalmente, quanto mais a pessoa negra é fetichizada como objeto sexual, menos ela é considerada como possível cônjuge. Não é de se surpreender que todos esses preconceitos racistas das sociedades brasileira e norte-americana façam com que, nesses países, as pessoas negras (especialmente as mulheres) passem mais tempo solteiras e tenham mais dificuldade para casar.

Presidenta do Sindidomésticas processa Micheline Borges

Jornalista potiguar afirmou que médicas cubanas tem “cara de empregada doméstica”. Ação de danos morais cobra R$ 27 mil Reprodução A presidenta do Sindidoméstica (Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos da Grande São Paulo), Eliana Gomes de Menezes, entrou com uma ação de danos morais contra a jornalista potiguar Micheline Borges, que afirmou no Facebook que as médicas cubanas contratadas pelo Programa Mais Médicos “tem uma cara de empregada doméstica”. “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma Cara de empregada doméstica. Será que São medicas Mesmo??? Afe que terrível. Medico, geralmente, tem postura, tem cada de medico, se impõe a partir da aparência….. Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja O nosso Povo!”, diz o texto publicado pela jornalista na rede social. Posteriormente, em um comentário na mesma publicação, Micheline afirmou que não gostaria de ser atendida por pessoas “descabeladas, de chinelos e sem lavar a cara”. Após a repercussão negativa de sua declaração na internet, Micheline publicou um pedido de desculpas e deletou seu perfil nas redes sociais. “Foi um comentário infeliz, foi mal interpretado, era para ser uma brincadeira, por isso peço desculpa para as empregadas domésticas”, escreveu. Menezes diz que representa todas as empregadas domésticas do Brasil na ação, uma vez que atuou na profissão e conhece todos os rótulos e preconceitos enfrentados por essa classe de trabalhadoras. “Micheline Borges menospreza a potencialidade das médicas cubanas e trata com desprezo e discriminação as nossas empregadas domésticas”, diz a presidenta do Sindidoméstica. Leia também: - Jornalista causa revolta ao afirmar que médicas de Cuba “têm cara de empregada doméstica” - O médico cubano negro e a intolerância de nossa elite branca - Sindjorn lamenta as declarações de Micheline Borges sobre médicas cubanas Na ação, é citado o artigo do jurista Luiz Flávio Gomes, na qual o mesmo afirma que “a declaração [de Micheline] foi feita com base na ‘cara’ das médicas, caras negras ou pardas escuras, caras essas que os arianos (como Hitler) discriminam como feias ou malvadas”. O processo foi encaminhado para a na 1ª Vara do Juizado Especial Cível de Vergueiro, em São Paulo. A ação possui assessoria jurídica da Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos do Estado de São Paulo, a qual o Sindidoméstica é filiado. “A Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos do Estado de São Paulo e sindicatos filiados não admitem que preconceitos, discriminações, descasos, maus tratos, injustiças, continuem tão arraigadas na mentalidade dos cidadãos brasileiros (…) É imprescindível absorver as mudanças e notar que o Brasil não é feito de brancos, negros, amarelos, vermelhos, mas sim, da miscigenação de todos esses povos. O país desenvolveu em tantos aspectos desde seu descobrimento, mas a sociedade não conseguiu acompanhar esses avanços”, posiciona-se a entidade. De acordo com Camila Ferrari, assistente jurídica da federação, não foi definido ainda se a jornalista será ouvida em São Paulo, ou se a ação será encaminhada para o Rio Grande do Norte, de onde Micheline postou a ofensa. Com informações da Carta Capital.

Caminhada no Rio de Janeiro pede liberdade religiosa e Estado Laico

Por: Vinícius Lisboa, Repórter da Agência Brasil Milhares de pessoas se reuniram ontem (8) na Praia de Copacabana para a 6ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, promovida pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio. “A caminhada é importante porque mostra o conjunto de todas as religiões. A gente tem que defender o Estado Democrático de Direito, e levar em conta que, além de religiosos, somos todos cidadãos. A democracia no Brasil tem que se consolidar e compreender que a religião não tem que se impor ao Estado laico. Ela pode sugerir, mas respeitar o espaço de todos. Essa é uma riqueza da sociedade brasileira em que temos que insistir”, disse o babalaô Ivanir Santos, presidente da comissão. Ivanir destacou que a caminhada cresceu em número de religiões representadas, e comemorou a adesão maior dos evangélicos ao movimento. Apesar disso, ele lamentou a ausência de líderes protestantes. “O desafio é avançar e convencer os segmentos evangélicos de que temos que estar todos juntos”. A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, participou da caminhada e pediu aos líderes religiosos que apoiem o Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. “São atores políticos importantes os que estão aqui e devem nos ajudar a tornar realidade esse plano, uma realidade que se faz não somente em função de nossas iniciativas [do governo federal], mas pelas possibilidades de envolver os governos estaduais e prefeituras, porque, sem elas, o plano não se realiza”. Representando a Igreja Católica, religião com o maior número de fiéis no Brasil, o padre Fábio Luiz de Souza defendeu o conhecimento de todas as crenças. “Para acabar com a intolerância, é preciso principalmente se conhecer mutuamente e derrubar quaisquer barreiras e preconceitos”. O representante budista, Marcos Eduardo Purificação Correia disse que a religião só faz sentido se houver tolerância. “A importância dessa caminhada é demonstrar respeito acima de qualquer diferença. Se não conseguirmos superar essas diferenças, não há porquê termos religiões mais. Cada um tem que expor o que tem de melhor”, disse, que defende o ensino religioso nas escolas, como uma forma de mostrar todas as formas de fé. Sacerdote e presidente da União Wicca do Brasil, Og Sperle, destacou que mesmo nos debates pela liberdade religiosa é preciso dar espaço a grupos menos numerosos, como o seu. “O problema é que as minorias não são vistas pelas religiões majoritárias. Não somos convidados a participar dessa construção da liberdade. Existe uma dúzia de religiões que se juntam para ditar as regras”. Edição: Carolina Pimentel Fonte: Combate Racismo Ambiental

A, B, C do racismo

Mariana Santos de Assis, uma militante do movimento negro que está sempre antenada nas informações e debates sobre muitos temas, já estivemos juntos no Pro-Cotas Unicamp e Pro-Cotas do Mandato Pedro Tourinho e em outras ocasiões e tenho que ressaltar a qualidade do debate que Mariana sempre nos traz de forma simples sem deixar de ser acadêmica. Segue seu Texto abaixo: Vivemos um momento importante no Brasil, pois nossa elite branca, finalmente está saindo do armário da democracia racial e botando o racismo na rua abertamente. Por um lado isso facilita nossa vida, pois torna visível e incontestável o racismo em certas falas e atitudes, mas por outro lado, torna mais complicado entender as raízes mais profundas da discriminação racial, as formas cruéis e sutis como os interesses e as estruturas política-econômica-ideológica reverberaram em nossa formação cultural e relações sociais. Por exemplo, quando brancos se mobilizam contra a entrada de negros em números semelhantes a de brancos nas universidades, quando defendem o espaço universitário como sendo DELES; quando se incomodam com médicas que parecem empregadas domésticas (ao invés de se incomodarem com o fato de não termos médicas, no Brasil, que se pareçam com aquelas de Cuba); quando ainda aceitam e reivindicam elevadores de serviço, quartos de empregada e outras estruturas que demarcam e diferenciam os espaços da casa grande e da senzala; quando não paramos para pensar no medo que um homem negro em uma rua escura nos causa, e sei que causa mesmo; quando não pensamos que a marginalidade dessa parcela da população foi construída por uma história de privações e exclusão, quando dizem que “quem quer consegue”, mesmo sabendo que os negros estão, majoritariamente, pobres, presos ou mortos (vide os dados do IBGE), quando excluímos as produções culturais negras dos espaços valorizados de circulação de conhecimento. Sempre que brancos assumem essas atitudes ou pensam dessa forma estão sendo racistas, estão, excluindo, reforçando os lugares de subalternidade do negro, nos colocando “no nosso lugar”, não é o fato de não sentirem atração sexual por mulheres negras ou não gostar de samba, funk ou qualquer produção cultural da periferia negra que os tornam racistas, assim como o fato de ter amantes negrxs ou frequentar espaços culturais negros não te torna um grande defensor do povo negro e baluarte da igualdade entre as raças. Isso porque nossa luta não é pela aceitação e admiração do branco, lutamos por um espaço digno na sociedade que ajudamos a construir, lutamos pelos mesmos direitos de escolha e liberdade que os brancos gozam, ainda que sejam pobres, dentre outras coisas por estarem bem mais próximos da “boa aparência” necessária para estar em espaços privilegiados. Por fim, percebam que falei em brancos sendo racistas, excluindo e reforçando os lugares de subalternidade do negro, muitos gritarão revoltados que negros também são racistas, muitas vezes bem mais racistas que brancos. Lembro as palavras de Carlos Moore, “racismo é sistema de poder… O negro não tem poder de ser racista em nenhum lugar, mesmo se fosse possível”. O que negros fazem ao papaguear as bobagens racistas que faz parte de nossa sociedade é apenas reproduzir, fazer as vezes do negro servil que repete a postura do branco, numa busca desesperada por aceitação em uma sociedade que jamais o verá como igual e só o aceitará se ele, de dentro de seu belo carro importado, com sua linda mulher branca, souber abaixar a cabeça e aceitar seu lugar. Não há nada mais perfeito para os interesses de nossa sociedade racista do que negros falando contra cotas, contra médicos negros cubanos, contra políticas de ações afirmativas ou gritando argumentos pautados no mito da democracia racial. Saibam apenas que o negro que ainda faz esse papel, nunca será revoltante e odioso como o branco privilegiado que faz o mesmo. O branco quer manter seus privilégios, seu papel de dominador e o nosso de dominados; o negro, por sua vez, quer apenas manter-se seguro, garantir o pão e o pano, ainda que o pau seja inevitável e as noites de batuque na senzala, à luz da lua e das doces lembranças de África sejam o mais próximo de liberdade que chegará. Entendo que muitos ainda não tenham consciência de que pensam e agem assim, mas no fim das contas, mesmo que não seja sua intenção é isso que está fazendo, exatamente isso. Fonte: Religiões Afro Brasileiras e Política

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sickle Cell Anaemia - Profa. Dra. Hala Evans

Anemia Falciforme - Profa. Dra. Muna Muhammad Odeh

Corredor polonês racista é coisa do cotidiano brasileiro - por Fátima Oliveira

 
Uma “historinha” sobre falta de caráter, xenofobia e racismo de um médico idoso, que em nada difere de gente desprezível de outras profissões, pois o microcosmo das categorias profissionais é revelador das ideias dominantes numa sociedade de “racismo cordial”, onde ninguém se diz racista, só os outros são!
corredor polones
Na manhã de 1º de agosto passado, fui aos Correios do meu bairro com uma grande caixa para ser despachada. Como não havia lugar no balcão para a caixa de preciosidades para minha neta Clarinha, avisei a funcionária de que seria a próxima. Aguardei ao lado. Chegou a minha vez. Ao dizer: “Encomenda PAC”, um senhor todo pimpão, cabelos menos brancos que os meus, mas aparência de 70 e cacetada, fez de conta que eu não existia e entregou um envelope. Negra, aprendi a reagir quando fazem de conta que sou invisível.

Na maciota, mas firme, disse: “Senhor, é a minha vez! Estava na fila!”. E ele: “Isso aqui é rápido. É meu voto para o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo. Sabe o que é isso?”. Eu: “Senhor, espere! Estou sendo atendida!”. Ele: “Desculpe-me, não a vi! Sou muito educado! Pode passar, madame! Nordestino não respeita fila!”.

E o muito educado foi esbravejar no fim da fila: “Esse povo do Nordeste nem sabe o que é fila. Lá não existe isso. Conheço essa gente do meu consultório de ajudar pobres ali na favela. Há muitos desses nordestinos lá que eu ajudo! Favela não, que esse nome é discriminação e tá errado, da comunidade da Barragem Santa Lúcia. Sou caridoso. Atendo de graça lá. Ora, não vou me trocar com qualquer uma, sou médico, sou rico!”.

Gargalhei e, com o sangue fervendo, detonei: “E moleque, safado, xenófobo e racista. E cale a boca: sou tão médica quanto o senhor, há quase 40 anos...”. Ele (mirando a negra que vos fala): “Será? Então sou médico há mais anos que você!”. Eu: “E daí? Tá pensando que medicina nasceu só para o senhor, que é branco e do Sudeste? Deixe de bestagem e de xenofobia. Vou chamar a polícia para o senhor deixar de ser safado. Suma daqui, seu moleque, se não quiser sair algemado. Chispa!”.

Assustadíssimo, tropeçou nos próprios pés e, tremendo como vara verde, saiu feito um azougue... “Já vai? Espera a polícia, quero ver tua riqueza te safar!”. Mas ele fugiu! O único temor foi de o sujeito ter ou simular uma “sapituca” e eu ter de socorrê-lo ali...

Quando um médico setentão diz o que disse, demonstra que há caráter de todo tipo em qualquer profissão. Não é surpresa que médicos jovens portem cartazes “sou médico, sou culto, sou rico”, que evidenciam uma faceta da desfaçatez reinante; nem é coisa de outro mundo, é daqui mesmo, a exibição do corredor polonês do banditismo do racismo ocorrido em Fortaleza, uma criminosa intimidação a médicos cubanos. E Juan Merquiades Duvergel Delgado, médico, negro, cubano, tirou de letra: passou por ele – eternizando numa foto, que ganhou o mundo, a naturalização e a banalização do racismo brasileiro! Aliás, o maior mérito da importação de médicos, que oficializa a precarização do trabalho médico – pois até o governo solapa direitos trabalhistas e ainda quer aplausos –, é comprovar a falta de vergonha de ser racista sem medos!

Negro no Brasil vive num corredor polonês racista. Mas só negros percebem e sentem, como o aceite ou a omissão diante de práticas racistas institucionais, a exemplo do engavetamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra, que não andou um milímetro em sua implementação no atual governo. “Pra quem sabe ler, um pingo é letra”.




Fonte: O Tempo

Meninas Black Power


                               
"Ser negro não é um sentimento dado a priori, ser negro é um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro", sentencia a Psicanalista Neusa Santos numa frase que serve como mote para quem se propõe a reafirmar sua negritude.

E essa é, de fato, a empreitada em que as Meninas Black Power estão empenhadas. Com mais de 27 mil seguidoras, um grupo de meninas propagam no Facebook o orgulho de ter cabelo crespo

Com mais de 27 mil seguidoras, um grupo de meninas propagam no Facebook o orgulho de ter cabelo crespo. Além de assumirem suas madeixas crespas em seu dia a dia, incentivam todas as leitoras a se livrarem da ditadura do cabelo alisado.

Diante de uma época dominada pelas escovas definitivas e progressivas, as Meninas Black Power fazem o caminho inverso, querem tornar crespos os cabelos agredidos pelas químicas. Criada pela estudante carioca de enfermagem e obstetrícia Élida Aquino, a fanpage refaz o itinerário iniciado ainda no Orkut. “Meninas Black Power era uma comunidade no Orkut, e reunia quem estava descobrindo o cabelo crespo, a maioria em transição para o natural”, afirma Élida. Ao se lembrar de como descobriu a beleza dos crespos, Élida diz que enxergar a beleza do cabelo crespo natural é um processo para além da questão capilar. “Não é só estético e não só usamos os cabelos naturais por beleza. Esse processo vem junto com a reconstrução e aceitação da sua própria identidade. Ter modelos e referências na sociedade, que comunguem a mesma ideologia, facilita muito a desconstrução do modelo de beleza vigente. Posso dizer que entre as Meninas da equipe o que aconteceu foi um retorno ao que somos. A motivação começa quando você passa a se identificar com aquilo que questiona. Assim passamos por processos que nos levaram a cogitar o natural diante de tantas opções para domar e modificar o que já era nosso. Vimos, por exemplo, as norte-americanas que fizeram o movimento transition explodir, assistimos os vídeos, lemos os textos, olhamos para os cabelos e nos enxergamos naquilo. Somos tão semelhantes na aparência, e qual o motivo de não sermos livres como elas?”

Devido o grande sucesso, a página Meninas Black Power não é administrada somente por Élida: “temos, de fato, um coletivo, e dividimos nossos grupos de ação em diferentes Estados. Nossa intenção é alcançar todo o Brasil, mas por enquanto temos 14 integrantes no Rio, 13 em São Paulo, 3 em Minas, uma em Porto Alegre , uma na Bahia e uma no Espírito Santo. Minas, Bahia, Espírito Santo e Porto Alegre estão escolhendo mais meninas”, explica Élida.

Para elas, ao contrário do que muitos pensam, Meninas Black Power (MBP) não existe para pregar a tal “ditadura do cabelo natural”. “Acontece que há um fenômeno recorrente e vivemos nele desde muito tempo (algumas durante toda vida): obrigação de estar dentro do padrão pra sermos aceitas; ou melhor, toleradas”. “Contra tudo, nosso movimento se soma aos outros núcleos que se espalham por aí e dizem que ‘cabelo ruim’, ‘duro’ e ‘inaceitável’ é invenção pra dominar o pensamento. Sim, nós podemos libertar os nossos e os de muitas outras. Já passou da hora, meninas! Então não damos crédito ao ouvir que há ditadura aqui”.

“Nós não gostamos da química que aprisiona e faz pensar que só somos lindas com pouco volume, cabelos ultra sedosos ou cachos soltos (mas se você usa química e está por aqui, não precisa sair, viu?!); vamos contra a ideia de que não podemos ser crespas nas salas de entrevistas, de aula ou dentro da empresa; nós reinventamos o conceito de perfeição no momento em que espalhamos que tudo pode ser perfeito como é.”

“MBP é um centro de inspiração e apoio pra quem se sentiu presa a vida toda, mas agora decidiu que pode soltar o cabelo e as ideias. Há algo de errado em ajudar? Estamos abertas para as que amam seus cabelos e quem compreende que ditadura, de verdade, é não se satisfazer com o que realmente pode ser. Estamos soltas.”, afirmam as meninas.

Jacqueline Soares é uma das seguidoras das Meninas Black Power, e conta o que mais a motivou a abdicar da química e da chapinha e passar a manter o cabelo em sua “versão” natural: “Sempre fui vaidosa, relaxava meu cabelo sempre que os primeiros fios “rebeldes” começavam a surgir. mas não me sentia AUTÊNTICA. E com tanta química os cachos foram se perdendo e optei pelas Tranças, uma fase que gostei demais, mas ainda não me sentia realizada. Até que um dia, em um desfile para o salão Beleza Negra vi uma Negra Linda de cabelo Black Power - hoje uma das minhas melhores amigas e mentora do black Fernanda Ross.”

Para Nilma Lino Gomes, Reitora da UNAB e autora do livro Sem perder a Raiz, “Pensar a passagem da manipulação do cabelo do negro e da negra, do estilo político ao estilo de vida, abre um leque de possibilidades para o entendimento das expressões estéticas negras da atualidade, que não se limita à conscientização política. Coloca-nos no cerne da construção social e cultural da questão racial numa sociedade que, cada vez mais, privilegia e estimula a individualidade, a auto-expressão e uma consciência de si estilizada”.

LEVANTANDO A BANDEIRA CONTRA O PRECONCEITO

Em janeiro, a marca de cosmético Cadiveu publicou em sua fanpage um álbum de fotos de uma ação de divulgação para o estande da marca na Beauty Fair 2012, feira internacional sobre cabelos que aconteceu em São Paulo. Na ação, visitantes foram convidados a posarem usando perucas gigantes, que lembram um penteado black power, e mostrando uma placa com os dizeres: “Eu preciso de Cadiveu”. As Meninas incentivaram seguidoras a publicarem fotos com as mensagens #eunaoprecisodecadiveu, #blackpowercontraopreconceito e #duroeoseupreconceito. Na plataforma de blogging Tumblr, foi criada também a página “Não preciso de Cadiveu”. A repercussão foi tão grande que a ação foi publicada nos principais jornais do país.


“MUITO MAIS QUE SÓ UMA MUDANÇA DE PENTEADO, ELAS ESTÃO SE MOVIMENTANDO NUMA DIREÇÃO, OUSANDO, SE EXPONDO; E MAIS QUE TUDO ISSO, ABRINDO CAMINHOS PARA A ESCOLHA.”


MUITO ANTES DAS MENINAS

O Cabelo Black Power, também considerado por alguns como afro, foi considerado um estilo político pelo movimento de contestação dos negros desencadeado a partir da década de 60. Esse momento, ao atribuir ao cabelo crespo o lugar da beleza, representava simbolicamente a retirada do negro do lugar da inferioridade racial, no qual fora colocado pelo racismo.

A originalidade de assumir o cabelo crespo passava pelo pensamento da consciência negra que, segundo Nilma, era: “Tudo isso era para desvelar a introjeção de inferioridade – não só intelectual como estética – do negro, pregada pelo apartheid. A ideia central era de que o negro oprimido se libertasse dos valores racistas inculcados pela dominação branca, resgatando a riqueza da cultura africana. A consciência enfatizada por esse movimento incorporava e dava destaque à valorização do padrão estético negro, na tentativa de liquidar o mal-estar vivido pelo negro em relação à sua própria imagem. Esse movimento de estetização negra se propaga e atinge negros e negras de vários países, inclusive, do Brasil.”


Fonte: Revista Raça

Indígenas montam site e contam sua versão da história em materiais didáticos


                               
Legenda:A ONG Thydewá tem diversos projetos com o objetivo de empoderar os povos indígenas
Ainda nos primeiros anos da escola, quando as crianças têm seus contatos iniciais com a história brasileira, uma das perguntas propostas por muitos professores é “Quem descobriu o Brasil?”. A esta indagação, é comum que se espere que a criançada em coro responda “Pedro Álvares Cabral”.


Ao atribuir ao navegador português a descoberta do país, esta versão dos acontecimentos desconsidera as estimadas 5 milhões de pessoas que aqui viviam antes da chegada dos europeus. Para tentar minimizar este e muitos outros desrespeitos à cultura indígena, a ONG Thydêwá resolveu criar uma plataforma online para que os índios desenvolvam materiais didáticos que contem sua história e atualidade.

No site Índio Educa, é possível encontrar artigos a respeito de diferentes etnias e tribos brasileiras, todos escritos por indígenas. Os assuntos são diversos, e vão de aspectos históricos ao cotidiano. ”A época do índio sem voz está terminando. Este projeto tem o objetivo de empoderar o indígena para dialogar. Trabalhamos em cima dos preconceitos que existem, como pessoas que acham que eles ainda vivem nus”, conta o presidente da Thydêwá, Sebastian Gerlic.

A ideia surgiu em 2008, quando a Lei 11.645 tornou a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” obrigatória no currículo oficial da rede de ensino. Desde então, a ONG começou a reunir jovens indígenas interessados em produzir material de apoio a professores e alunos, e o Índio Educa foi lançado em 2011.


“Percebemos uma carência de material didático para dar subsídio a essas disciplinas. Então, chamamos indígenas que estão em universidades para formar um grupo de trabalho. Hoje o site tem 200 matérias provenientes de 10 etnias diferentes”, explica Gerlic.

O conteúdo do site é todo em formato de Recurso Educacional Aberto, com licença Creative Commons. Isso significa que o material pode ser utilizado e modificado por outras pessoas, como professores que queiram montar um conteúdo didático próprio.

Visite o site: Indío Educa

Fonte: História Ciências e Saúde