quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Seminário: 10 anos das Políticas de Promoção da Igualdade Racial

  


 A Lei 10.639/03 insere o Art. 26-A na LDB(Lei nº 9.394/96), que estabelece a obrigatoriedade do ensino da "História e Cultura Afro-Brasileira" no currículo das escolas públicas e particulares do pais.
Para tanto, a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Educação do Distrito Federal, promovem no dia 28/11, o Seminário: 10 anos das Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que acontecerá na EAPE, com abertura às 9h.   

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Uma proposta de exercício e de ética da escuta para quem não é vítima de racismo

 

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À raiz do debate de semana passada na Al Jazeera, voltaram a acontecer, no meu Facebook, email e Twitter, algumas discussões sobre racismo brasileiro que, apesar de sempre saudáveis, com frequência repetem uma dinâmica bastante comum no país. Aprendi, com os anos, que essa dinâmica tem que ser descrita com cuidado, para que a própria descrição não termine reforçando-a. Eu me refiro à dinâmica estudada pela Ana nesse texto magistral, Não é sobre você que devemos falar.
Trata-se de um dos maiores obstáculos que se enfrenta no combate ao racismo brasileiro, e ele pode ser resumido mais ou menos nos seguintes termos. Os brancos brasileiros tendemos a acreditar sinceramente, a crer piamente, a estar convictos, de que sabemos o que é o racismo sem jamais termos feito o exercício de escutar suas vítimas. A dinâmica se agrava pelo fato extraordinário e mui curioso, bastante próprio do Brasil, de que 86% dos brancos brasileiros afirmam não ter preconceito contra negros, mas nesse mesmíssimo universo, 92% reconhecem que existe racismo no Brasil.
Conclusão: o branco brasileiro se acha uma ilha de tolerância cercada de racismo por todos os lados, racismo ao qual, curiosamente, ele se crê imune.  É um caso inédito na história da sociologia. Ao mesmo tempo em que se crê imune, o branco brasileiro tende a ter, sobre o fenômeno, uma opinião bastante convicta, sem jamais ter tomado a iniciativa de tentar escutar um negro sobre o que é ser vítima de racismo. O branco não vê, nessa atitude, nenhuma herança racista.
O resultado é extraordinário: praticamente todos os brancos brasileiros reconhecem que há racismo no país, praticamente todos eles dizem que não são parte dele, e mantêm ambas opiniões sem jamais ter feito o esforço metódico, sistemático, de ouvir as vítimas do racismo. Não se costuma, no Brasil, ver a contradição entre essas três coisas. Coisa mais incrível ainda é que, ao serem perguntados se conhecem alguma pessoa racista, os entrevistados, em sua grande maioria, apontavam pais, irmãos, tios, amigos ou namorados. Ou seja, o ambiente ao redor está inteirinho contaminado de racismo, só eu que não!
O racismo brasileiro, que está em todos os lugares mas nunca em nós mesmos, produz, a partir daí, um segundo efeito bastante perverso: conversar sobre a discriminação racial, sobre a segregação e a exclusão raciais, e sobre a luta dos afrobrasileiros por cidadania tende a provocar, na maioria da população branca brasileira, um visível desconforto, um claríssimo mal estar, um mal disfarçado desejo de que a conversa termine logo. É como se o racismo não existisse até o momento em que passamos a conversar sobre ele.
No caso da discussão sobre as cotas, por exemplo, eu ouvi, algumas dezenas de vezes, a reclamação de brancos brasileiros de que não dava pra discutir aquilo porque não se sentiam confortáveis para se oporem a essas medidas de reparação sem serem chamados de racistas. A apreensão é bizarríssima, porque estou nesse debate há mais de uma década e jamais vi um ativista do movimento negro, um militante pró-cotas, um representante de organização afrobrasileira chamar alguém de racista porque se opõe às cotas. Na verdade, eu nunca vi essa acusação ser feita nesses termos “ah, se você é contra as cotas, você é racista”. Mas esse é o fantasma evocado uma e outra vez para terminar a conversa. Se algum marciano pousasse no Brasil, sem conhecimento do contexto, e escutasse tudo isso, ele provavelmente concluiria que o grande problema racial brasileiro é que muitos brancos bem-intencionados estão sendo chamados de racistas.
Vi gente de esquerda (esquerda mesmo) me escrever esta semana dizendo “será que não posso questionar se as cotas são a melhor forma de combater o racismo sem ser chamado de racista?” A angústia é genuína e o fato de que ela seja expressa assim, sem a menor consciência de que talvez ela tenha algo a ver com o racismo, só mostra como é longo o caminho que temos que andar. São 386 anos de escravidão. Décadas e décadas de violência policial racista e exclusão. 512 anos de discriminação. O movimento negro decidiu que queria essa vitória, essa conquista: as cotas. Elas foram implantadas. Os resultados são melhores do que os esperados: a evasão dos cotistas é menor que a dos não cotistas e suas notas são iguais ou melhores. O Supremo Tribunal Federal validou a constitucionalidade do projeto. E há branco brasileiro esclarecido, de esquerda, escrevendo “será que não posso questionar se as cotas são a melhor forma de combater o racismo sem ser chamado de racista?”, como se ela fosse contraditória com outras formas, como se ela tivesse que ser a melhor para ser eficaz. Pior de tudo, o branco brasileiro esclarecido, de esquerda, escreve isso e não vê na frase nenhuma herança racista.
O remédio para se combater esse fenômeno só pode ser um: desenvolver uma ética da escuta. E é com esse chamado que eu termino, para que você realize um exercício que venho realizando há duas décadas: se você é um branco brasileiro, seja lá de que origem for, que tal tentar procurar, na sua cidade, ao longo do próximos meses, cinquenta cidadãos afrobrasileiros? Pergunte a eles sobre sua experiência. Concentre-se em ouvir. É a experiência deles que importa aqui. Não é sobre você que devemos falar. Pergunte, por exemplo, como é andar de noite por uma metrópole brasileira sendo negro. Pergunte se ele/ela já foi objeto de revista policial arbitrária. Pergunte se eles já foram agredidos com epítetos raciais. Pergunte se já foram barrados em algum lugar sem razão aparente. Pergunte se já foram interpelados ou olhados como se não tivessem o direito de estar onde estão. Pergunte se já viram parentes serem humilhados por causa da cor da pele. Faça estas e outras muitas perguntas possíveis (por exemplo, sobre a experiência de somente ver garis, porteiros e flanelinhas parecidos com você, enquanto seus amigos brancos veem médicos, advogados e engenheiros parecidos com eles). Leve em conta, neste tipo de exercício, que se você, branco, estiver conversando com um negro que lhe é subordinado, há uma possibilidade de que, dependendo de como a pergunta for feita, ele diga o que você quer ou precisa ouvir, por falta de confiança, por falta de costume, pela dor e pela humilhação envolvidas, pelos anos todos em que foi quase proibido de falar sobre o assunto (já há, inclusive, estudos acadêmicos sobre esse fenômeno). Lembre-se que o racismo é assunto delicado, mesmo no interior de famílias negras, e a conversa sobre ele, envolvendo negros e brancos, uma grande novidade no Brasil. Paute sua sensibilidade a partir desses fatos.

Nosso racismo é um crime perfeito

 

O antropólogo Kabengele Munanga fala sobre o mito da democracia racial brasileira, a polêmica com Demétrio Magnoli e o papel da mídia e da educação no combate ao preconceito no país
Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria
Fórum – O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?
Kabengele – Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.
Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.
A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?
Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão… A geografia do seu corpo não indica isso.
Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.
Revista Fórum – Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo…
Kabengele – Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.
Revista Fórum – Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial?
Kabengele – Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalidade. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.
Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendência. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afrodescendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.
Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.
O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.
(Foto TV Brasil)
Fórum – Que é o argumento do Demétrio Magnoli.
Kabengele – Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, “negro, volta pra senzala”. Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.
Fórum – Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?
Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.
Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?
Kabengele – É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. “Ah, é só mudar a escola pública.” Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.
E tem esse argumento legalista, “porque a cota é uma inconstitucionalidade, porque não há racismo no Brasil”. Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito. Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível.
Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.
Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. No artigo do professor Demétrio Magnoli, ele me critica, mas não leu nada. Nem uma linha de meus livros. Simplesmente pegou o livro da Eneida de Almeida dos Santos, Mulato, negro não-negro e branco não-branco que pediu para eu fazer uma introdução, e desta introdução de três páginas ele tirou algumas frases e, a partir dessas frases, me acusa de ser um charlatão acadêmico, de professar o racismo científico abandonado há mais de um século e fazer parte de um projeto de racialização oficial do Brasil. Nunca leu nada do que eu escrevi.
A autora do livro é mestiça, psiquiatra e estuda a dificuldade que os mestiços entre branco e negro têm pra construir a sua identidade. Fiz a introdução mostrando que eles têm essa dificuldade justamente por causa de serem negros não-negros e brancos não-brancos. Isso prejudica o processo, mas no plano político, jurídico, eles não podem ficar ambivalentes. Eles têm que optar por uma identidade, têm que aceitar sua negritude, e não rejeitá-la. Com isso ele acha que eu estou professando a supressão dos mestiços no Brasil e que isso faz parte do projeto de racialização do brasileiro. Não tinha nada para me acusar, soube que estou defendendo as cotas, tirou três frases e fez a acusação dele no jornal.
Fórum – O senhor toca na questão do imaginário da democracia racial, mas as pessoas são formadas para aceitarem esse mito…
Kabengele – O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.
Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda.
Quando você está diante do negro, dizem que tem que dizer que é moreno, porque se disser que é negro, ele vai se sentir ofendido. O que não quer dizer que ele não deve ser chamado de negro. Ele tem nome, tem identidade, mas quando se fala dele, pode dizer que é negro, não precisa branqueá-lo, torná-lo moreno. O brasileiro foi educado para se comportar assim, para não falar de corda na casa de enforcado. Quando você pega um brasileiro em flagrante de prática racista, ele não aceita, porque não foi educado para isso. Se fosse um americano, ele vai dizer: “Não vou alugar minha casa para um negro”. No Brasil, vai dizer: “Olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar”. Porque a educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser uma coisa explícita.
Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: “você já discriminou alguém?”. A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar… Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: “você que é complexado, o problema está na sua cabeça”. Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.
Revista Fórum – O humorista Danilo Gentilli escreveu no Twitter uma piada a respeito do King Kong, comparando com um jogador de futebol que saía com loiras. Houve uma reação grande e a continuação dos argumentos dele para se justificar vai ao encontro disso que o senhor está falando. Ele dizia que racista era quem acusava ele, e citava a questão do orgulho negro como algo de quem é racista.
Kabengele – Faz parte desse imaginário. O que está por trás dessa ilustração de King Kong, que ele compara a um jogador de futebol que vai casar com uma loira, é a ideia de alguém que ascende na vida e vai procurar sua loira. Mas qual é o problema desse jogador de futebol? São pessoas vítimas do racismo que acham que agora ascenderam na vida e, para mostrar isso, têm que ter uma loira que era proibida quando eram pobres? Pode até ser uma explicação. Mas essa loira não é uma pessoa humana que pode dizer não ou sim e foi obrigada a ir com o King Kong por causa de dinheiro? Pode ser, quantos casamentos não são por dinheiro na nossa sociedade? A velha burguesia só se casa dentro da velha burguesia. Mas sempre tem pessoas que desobedecem as normas da sociedade.
Essas jovens brancas, loiras, também pulam a cerca de suas identidades pra casar com um negro jogador. Por que a corda só arrebenta do lado do jogador de futebol? No fundo, essas pessoas não querem que os negros casem com suas filhas. É uma forma de racismo. Estão praticando um preconceito que não respeita a vontade dessas mulheres nem essas pessoas que ascenderam na vida, numa sociedade onde o amor é algo sem fronteiras, e não teria tantos mestiços nessa sociedade. Com tudo o que aconteceu no campo de futebol com aquele jogador da Argentina que chamou o Grafite de macaco, com tudo o que acontece na Europa, esse humorista faz uma ilustração disso, ou é uma provocação ou quer reafirmar os preconceitos na nossa sociedade.
Fórum – É que no caso, o Danilo Gentili ainda justificou sua piada com um argumento muito simplório: “por que eu posso chamar um gordo de baleia e um negro de macaco”, como se fosse a mesma coisa.
Kabengele – É interessante isso, porque tenho a impressão de que é um cara que não conhece a história e o orgulho negro tem uma história. São seres humanos que, pelo próprio processo de colonização, de escravidão, a essas pessoas foi negada sua humanidade. Para poder se recuperar, ele tem que assumir seu corpo como negro. Se olhar no espelho e se achar bonito ou se achar feio. É isso o orgulho negro. E faz parte do processo de se assumir como negro, assumir seu corpo que foi recusado. Se o humorista conhecesse isso, entenderia a história do orgulho negro. O branco não tem motivo para ter orgulho branco porque ele é vitorioso, está lá em cima. O outro que está lá em baixo que deve ter orgulho, que deve construir esse orgulho para poder se reerguer.
Fórum – O senhor tocou no caso do Grafite com o Desábato, e recentemente tivemos, no jogo da Libertadores entre Cruzeiro e Grêmio, o caso de um jogador que teria sido chamado de macaco por outro atleta. Em geral, as pessoas – jornalistas que comentaram, a diretoria gremista – argumentavam que no campo de futebol você pode falar qualquer coisa, e que se as pessoas fossem se importar com isso, não teria como ter jogo de futebol. Como você vê esse tipo de situação?
Kabengele – Isso é uma prova daquilo que falei, os brasileiros são educados para não assumir seus hábitos, seu racismo. Em outros países, não teria essa conversa de que no campo de futebol vale. O pessoal pune mesmo. Mas aqui, quando se trata do negro… Já ouviu caso contrário, de negro que chama branco de macaco? Quando aquele delegado prendeu o jogador argentino no caso do Grafite, todo mundo caiu em cima. Os técnicos, jornalistas, esportistas, todo mundo dizendo que é assim no futebol. Então a gente não pode educar o jogador de futebol, tudo é permitido? Quando há violência física, eles são punidos, mas isso aqui é uma violência também, uma violência simbólica. Por que a violência simbólica é aceita a violência física é punida?
Fórum – Como o senhor vê hoje a aplicação da lei que determina a obrigatoriedade do ensino de cultura africana nas escolas? Os professores, de um modo geral, estão preparados para lidar com a questão racial?
Kabengele – Essa lei já foi objeto de crítica das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.
Mas essa questão do ensino da diversidade na escola não é propriedade do Brasil. Todos os países do mundo lidam com a questão da diversidade, do ensino da diversidade na escola, até os que não foram colonizadores, os nórdicos, com a vinda dos imigrantes, estão tratando da questão da diversidade na escola.
O Brasil deveria tratar dessa questão com mais força, porque é um país que nasceu do encontro das culturas, das civilizações. Os europeus chegaram, a população indígena – dona da terra – os africanos, depois a última onda imigratória é dos asiáticos. Então tudo isso faz parte das raízes formadoras do Brasil que devem fazer parte da formação do cidadão. Ora, se a gente olhar nosso sistema educativo, percebemos que a história do negro, da África, das populações indígenas não fazia parte da educação do brasileiro.
Nosso modelo de educação é eurocêntrico. Do ponto de vista da historiografia oficial, os portugueses chegaram na África, encontraram os africanos vendendo seus filhos, compraram e levaram para o Brasil. Não foi isso que aconteceu. A história da escravidão é uma história da violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África. Se se introduzir a história do outro de uma maneira positiva, isso ajuda.
É por isso que a educação, a introdução da história dele no Brasil, faz parte desse processo de construção do orgulho negro. Ele tem que saber que foi trazido e aqui contribuiu com o seu trabalho, trabalho escravizado, para construir as bases da economia colonial brasileira. Além do mais, houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.
Voltando a sua pergunta, as dificuldades são de duas ordens. Em primeiro lugar, os educadores não têm formação para ensinar a diversidade. Estudaram em escolas de educação eurocêntrica, onde não se ensinava a história do negro, não estudaram história da África, como vão passar isso aos alunos? Além do mais, a África é um continente, com centenas de culturas e civilizações. São 54 países oficialmente. A primeira coisa é formar os educadores, orientar por onde começou a cultura negra no Brasil, por onde começa essa história. Depois dessa formação, com certo conteúdo, material didático de boa qualidade, que nada tem a ver com a historiografia oficial, o processo pode funcionar.
Fórum – Outra questão que se discute é sobre o negro nos espaços de poder. Não se veem negros como prefeitos, governadores. Como trabalhar contra isso?
Kabengele – O que é um país democrático? Um país democrático, no meu ponto de vista, é um país que reflete a sua diversidade na estrutura de poder. Nela, você vê mulheres ocupando cargos de responsabilidade, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, assim como no setor privado. E ainda os índios, que são os grandes discriminados pela sociedade. Isso seria um país democrático. O fato de você olhar a estrutura de poder e ver poucos negros ou quase não ver negros, não ver mulheres, não ver índios, isso significa que há alguma coisa que não foi feita nesse país. Como construção da democracia, a representatividade da diversidade não existe na estrutura de poder. Por quê?
Se você fizer um levantamento no campo jurídico, quantos desembargadores e juízes negros têm na sociedade brasileira? Se você for pras universidades públicas, quantos professores negros tem, começando por minha própria universidade? Esta universidade tem cerca de 5 mil professores. Quantos professores negros tem na USP? Nessa grande faculdade, que é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma das maiores da USP junto com a Politécnica, tenho certeza de que na minha faculdade fui o primeiro negro a entrar como professor. Desde que entrei no Departamento de Antropologia, não entrou outro. Daqui três anos vou me aposentar. O professor Milton Santos, que era um grande professor, quase Nobel da Geografia, entrou no departamento, veio do exterior e eu já estava aqui. Em toda a USP, não sou capaz de passar de dez pessoas conhecidas. Pode ter mais, mas não chega a 50, exagerando. Se você for para as grandes universidades americanas, Harvard, Princeton, Standford, você vai encontrar mais negros professores do que no Brasil. Lá eles são mais racistas, ou eram mais racistas, mas como explicar tudo isso?
120 anos de abolição. Por que não houve uma certa mobilidade social para os negros chegarem lá? Há duas explicações: ou você diz que ele é geneticamente menos inteligente, o que seria uma explicação racista, ou encontra explicação na sociedade. Quer dizer que se bloqueou a sua mobilidade. E isso passa por questão de preconceito, de discriminação racial. Não há como explicar isso. Se você entender que os imigrantes japoneses chegaram, nós comemoramos 100 anos recentemente da sua vinda, eles tiveram uma certa mobilidade. Os coreanos também ocupam um lugar na sociedade. Mas os negros já estão a 120 anos da abolição. Então tem uma explicação. Daí a necessidade de se mudar o quadro. Ou nós mantemos o quadro, porque se não mudamos estamos racializando o Brasil, ou a gente mantém a situação para mostrar que não somos racistas. Porque a explicação é essa, se mexer, somos racistas e estamos racializando. Então vamos deixar as coisas do jeito que estão. Esse é o dilema da sociedade.
Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?
Kabengele – A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.
Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.
Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou.

Curta Metragem D.O.R.


MAGIA NEGRA



Magia negra era o Pelé jogando futebol, Cartola compondo o mundo é um moinho. A Travessia de Milton nascimento.
Magia negra é o poema de Castro Alves e o samba de Jovelina…
Magia negra é Djavan, Emicida, Racionais MC´s, Thalma de Freitas, Simonal. ...
Magia negra é Drogba, Fela kuti,
Magia negra é dona Edith recitando poesia no Sarau da Cooperifa.
Carolina de Jesus é pura magia negra. Garrincha tinhas 2 pernas mágicas e negras. James Brow e Milton Santos é pura magia.
Não posso ouvir a palavra magia negra que me transformo num dragão.
Michael Jackson e Michael Jordan é magia negra.
Cafu, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Dona Ivone Lara, Jeferson De, Jorge Mendonça, Daiane dos Santos é magia negra.
Magia Malê Luísa Mahin Calafate.
Fabiana Cozza, Machado de Assis, James Baldwin, Alice Walker, Nelson Mandela, Tupac, isso é o que chamo de escura magia.
Magia negra é Malcon X. A Marcha de Harry Belafonte e Martin Luther King.
Mussum, Zumbi dos Palmares, João Antônio, Candeia e Paulinho da Viola. Usain Bolt, Elza Soares, Sarah Vaughan, Billy Holliday, Nina Simone é magia mais do que negra.
Eu faço magia negra quando danço Fundo de quintal e Bob Marley.
Cruz e Souza, Zózimo, Spike Lee, tudo é magia negra neles. Umoja, Espirito de Zumbi, Afro Koteban…
É mestre Bimba, é Vai-Vai é Mangueira, todas as escolas transformando quartas-feira de cinzas em alegria de primeira.
Magia negra é Sabotage, MV Bill, Anderson Silva e Solano trindade.
Ondjaki, Ana Paula Tavares, João Mello… Magia negra.
Magia negra são os brancos que são solidários na luta contra o racismo.
Magia negra é o RAP, O Samba, o Blues, o Rock, Hip Hop de Africabambaataa.
Magia negra é magia que não acaba mais.

É isso e mais um monte de gente que é magia negra.

O resto é feitiço racista.

Sérgio Vaz
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Desculpa


Programação das Comemorações do Mês da Consciência Negra 2013


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Veneno Está na Mesa (completo) ☠☠☠☠





É o nome do documentário de Silvio Tendler. Um filme dedicado a elucidar o cidadão brasileiro sobre o escândalo dos agrotóxicos no Brasil, com depoimentos de agricultores, representantes de consumidores, representantes de multinacionais e da ANVISA, nossa agência nacional de vigilância sanitária. O Brasil é lamentavelmente o país que mais consome agrotóxicos no planeta.
O que mais incomoda no entanto é a total ingenuidade ou mesmo falta de interesse com que a população brasileira trata do assunto. De certa maneira representa uma maneira de pensar que ainda vem do autoritarismo. Algo do tipo "se o governo aprovou é porque deve ser bom". E isso não tem nada a ver com a realidade.
A indústria de venenos agrícolas conta com a nossa ignorância para aprovar, com o aval de congressistas e do alto escalão do poder executivo, substâncias de alto poder de toxicidade e proibidas no resto do planeta, para serem despejadas em nossos alimentos. Um cálculo, dividindo a quantidade de agrotóxicos usadas no Brasil pelo numero de habitantes, gera o número assustador de 5,2 litros de veneno per capita.
Em uma bandeja de morangos encontraram-se 18 tipos de agrotóxicos!
Encontra-se em andamento a Campanha Nacional contra os Agrotóxicos e pela Vida, que busca a proibição de, entre outras coisas, pulverização aérea de agrotóxicos. Essa prática é um absurdo e está levando populações inteiras do interior a uma contaminação das vias aéreas e doenças respiratórias. Essa campanha também busca assinaturas para cancelar os benefícios concedidos pelo governo à indústria de agrotóxicos, isentando-os de todos os impostos. Essa ótica perversa privilegia tais produtos, isentando-os de taxas, como se fossem os venenos algo benéfico ou mesmo estratégicos.
A medicina se pronuncia e o Conselho Regional de Medicina de SP recebeu em sua sede a palestra do Dr. Michael Jansen, cientista da FDA (ANVISA americana), quando foram debatidas as ações dos agrotóxicos sobre a saúde humana da forma aguda ou crônica. Os presidentes das Sociedades Paulista de Endocrinologia e Neurologia confirmaram os achados clínicos descritos nos EUA e fizeram paralelo com a situação no Brasil.
Estamos sob esta ameaça. O veneno está na mesa. Este é o nome do documentário. O consumidor brasileiro deve assumir que é peça principal na desarticulação desta rede de interesses, para a  qual nossa saúde nada conta, menos ainda a saúde da terra. Para eles o que vale são os lucros, o dinheiro gerado pela produção..
Devemos optar pelos orgânicos, fazer feiras orgânicas locais, valorizando o produtor familiar e permitindo que ele venda diretamente ao consumidor. Nós temos esta força estratégica e logística que vale mais que armas. Usemos nossa escolha pelo orgânico como o caminho para a libertação do estado de doença crônica que assola nossa população.

Fonte: Dr. Alberto Gonzalez - www.dralberto.com

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

II Concurso Cultural IFÁ AJE


Jogo de Cinema

O JOGO DE CINEMA

A II Edição do Jogo de Cinema está no ar!

E os jovens que se preparem, pois eles têm uma missão: infiltrar-se no mundo cinematográfico para descobrir como se dá a produção de um filme. Como bons agentes não-secretos, eles precisam cumprir tarefas para dar conta da missão. Os desafios são orientados por pessoas com conhecimento em cinema para que possam guiar os nossos agentes.
Esta edição do jogo é voltado para alunos do ensino fundamental e médio. E podem participar alunos dos seguintes Estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Acre e também do Distrito Federal.

O projeto-piloto, realizado em 2012, contou com a participação de várias equipes com nomes bastante criativos, como The Avengers e Cineloucos. Na última fase, eles devem organizar uma sessão de cinema na escola, para exibir o curta que produziram e outros vídeos também enviados por participantes do jogo. Em cada uma das tarefas, as equipes ganham pontos – e as equipes que mais participarem terão a oportunidade de receber oficinas de cinema e ainda exibir seu curta em um festival.

Inscreva já a sua equipe

Caso tenha qualquer dúvida, você pode nos achar em: Grupo do Facebook: Jogo de cinema
Página do Facebook: Cine-Educação
E-mail: gestao@cineedu.com.br

Curta Histórias

O que é

Curta Histórias é uma premiação voltada aos alunos matriculados na Educação Básica da rede pública de ensino de todo o país. Criado este ano, o prêmio tem como tema de abertura “Africanidades Brasileiras”.
Esta iniciativa visa incentivar novos talentos e estimular o desenvolvimento das atividades pedagógicas, audiovisuais de cunho cultural e educativo em escolas públicas brasileiras.
Desta forma, valoriza a Educação das Relações Étnico-Raciais e a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira na Educação Básica.

Como participar

Cada escola poderá inscrever apenas um vídeo, produzido por uma equipe formada por um professor ou educador responsável e até cinco alunos.
Os vídeos devem ter, no máximo, um minuto de duração, sem contar os créditos. As imagens podem ser captadas por meio de aparelhos de telefone celular ou câmeras domésticas.
As inscrições são gratuitas e estarão abertas até 05 de Novembro de 2013.
 

Premiação

O prêmio Curta Histórias terá dez finalistas e, entre esses, três vencedores: um escolhido pelo Júri Popular e outros dois pela Comissão Julgadora Final.
As equipes vencedoras serão premiadas da seguinte forma:
• alunos: oficina de formação em cinema e empreendedorismo com duração de 24 horas; um tablet e um smartphone para cada participante da equipe;
• professor: oficina de formação em cinema e empreendedorismo com duração de 24 horas; um tablete e um smartphone;
• escola: um data show, um dvd, uma filmadora digital e uma câmera fotográfica semiprofissional.
Os vencedores serão anunciados no dia 25 de novembro de 2013, durante evento que o Ministério da Educação realizará em Brasília, com a participação das dez equipes finalistas. Após o evento, o resultado será disponibilizado no site.
 

Datas importantes

No quadro abaixo, estão as principais datas do calendário de atividades do prêmio Curta Histórias.
datas_importantes
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Comunicadores (as) negros(as) conquistam espaço nas mídias digitais

Por: Redação
09/10/2013
O compromisso com a temática negra e a produção de informação de qualidade fazem com que as mídias negras se consolidem na web


Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dão conta que mais de 100 milhões de brasileiros têm acesso à internet. Para conseguir alcançar esse público, produtores de conteúdo negro migraram para este que é o meio mais democrático de produção de informação.

Nas mídias negras as notícias têm uma agenda complementar aos meios convencionais para despertar a reflexão do leitor, negro ou branco, sobre as relações raciais no Brasil e no mundo. Apesar dos desafios da criação de um veículo cujo tema central é as relações raciais, o estilo editorial adotado por cada portal, e o primor pela qualidade dos textos e informações divulgadas, são as principais armas para garantia de público e seguidores.

Relações raciais e mídia – a perspectiva paulistana: São Paulo é, atualmente, um pólo de produção de informação negra para a web, pois concentra o maior número de veículos com essa característica no país. Os portais do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade), Áfricas, Kultafro, Geledés e os blogues e Banho Assento, Elo da Corrente, o canal no YouTube Diário Preto; as páginas no Facebook Nomes Afro, Africanos e seus Significados e Feministas Negras Radicais, assim como a revista Omenelik – 2º Ato, são uma mostra do potencial das mídias negras na web e fora dela.

Juliana Gonçalves – CEERT

Juliana Gonçalves, do CEERT, destaca o compromisso do Centro com a produção de textos informativos e didáticos, destinado para um público ainda em formação sobre questões raciais. A jornalista ressaltou a necessidade de dar visibilidade às fontes negras, afim de que possam contribuir em notícias sobre os mais variados assuntos em outros meios de comunicação.

Luiz Paulo Lima – Kultafro

Luiz Paulo Lima, do Kultafro, alerta para as estratégias de conquista de novos leitores e fidelização do público. De acordo com Lima, o site tem uma preocupação com a escolha dos temas a serem abordados e o tratamento dado a cada notícia. “O título e as imagens na home são fundamentais. Um título passivo passa desapercebido na web que tem muita informação”, pontua.

Luiz Paulo Lima – Kultafro

Luiz Paulo Lima, do Kultafro, alerta para as estratégias de conquista de novos leitores e fidelização do público. De acordo com Lima, o site tem uma preocupação com a escolha dos temas a serem abordados e o tratamento dado a cada notícia. “O título e as imagens na home são fundamentais. Um título passivo passa desapercebido na web que tem muita informação”, pontua.

Washington Luiz – Portal Áfricas

Investimento públicos nas mídias negras – Washington Lúcio, do Portal Áfricas, alerta para a necessidade de mais investimento nas mídias negras. O jornalista denuncia que o governo brasileiro ainda não investe recursos publicitários nos sites e portais de conteúdo etnicorracial. Para ele é necessário traçar uma estratégia para que esse veículos tenham o mesmo acesso aos recursos que as mídias convencionais.

Blogues, fan-pages e canais de vídeo - A facilidade de acesso e a possibilidade de contribuir para o conteúdo postado atraem os leitores, vistos agora como integrantes, dos blogues, fan-pages e canais de vídeos nas redes sociais. Para Jairo Pereira, artista multimídia, a inspiração para criação Diário Preto no YouTube foi a indignação pessoal em relação a alguns casos emblemáticos de racismo.

Jairo Pereira – Diário Preto

Nos vídeos que produz, Jairo expõe suas opiniões sobre os mais diversos temas, sempre vinculados a temática negra, e convida o expectador à reflexão. “O que a gente enfrenta no dia a dia são as pessoas que não conseguem ver a importância das ações afirmativas. Fazemos as pessoas parar pra pensar”, pontua.

Feminismo negro na pauta - O blogue Banho de Assento foi criado para divulgar receitas caseiras para cura de enfermidades. É um espaço feito por mulheres para as mulheres. “Costumo dizer que o Banho de Assento é um blogue de perereca”, diz Jacqueline Romio, responsável pelo site. A blogueira conta que o espaço se transformou num fórum de ajuda e troca de informações sobre doenças sexualmente transmissíveis, relacionamentos e aconselhamento para mulheres de todas as raças e etnias, de diferentes faixas etárias.

Jacqueline Romio – Banho de Assento

Além disso, o site também é uma área de militância política e divulgação cultural negra. Fascinada por tecnologia, ainda atua na página privada no Facebook Feministas Negras Radicais, grupo formado majoritariamente por mulheres, que discute os reflexos do racismo, sexismo e da lesbofobia na sociedade brasileira.

Quem também explora o mundo de possibilidades oferecido pelo Facebook é Renata Molinaro, da fan-page Nomes Afro, Africanos e seus Significados. De acordo com Renata, a criação da página partiu de uma necessidade particular de estar mais próxima da ancestralidade africana. Com quase 20 mil seguidores, Renata conta que se sente acolhida pelos contatos do blogue. “Ali estou entre os meus”, diz.

Michel Yakini – Blog Elo da Corrente

Literatura negra - O trabalho com rádios comunitárias em São Paulo, inspirou em 2007, a criação do blogue Elo da Corrente e do Coletivo Literário Negro. O site conta com textos políticos, literários e poéticos, divulga a realização de saraus e outras atividades relacionadas a produção literária. Michel Yakini, escritor, um dos responsáveis pelo conteúdo, conta que, mesmo não sendo de comunicadores, conseguiram conquistar o público e “se estabelecer fora da imposição da invisibilidade”. Michel reconhece na web a possibilidade de “ampliar as redes de comunicação e ir além delas. Uma extensão para a divulgação da literatura negra”, conta.


Nabor Júnior – Omenelick 2º Ato

Imprensa Negra – Nabor Júnior, resgatou um dos ícones da imprensa negra do século 19 no Brasil, o jornal Omenelick, com a criação de uma revista homônima: a Omenelick – 2º Ato. Nabor conta que a decisão por um meio de comunicação físico partiu da necessidade de preencher o espaço por mais informações sobre a produção artisticocultural negra paulista. Segundo o jornalista, a revista conta as experiências urbanas a partir do ponto de vista racial e da juventude. “Temos um potencial a ser explorado em relação ao público jovem, se bem usada, a ferramenta tem bons resultados”, comenta Nabor.

Palmares 25 Anos – Mídias e Relações Raciais: Os depoimentos são fruto dos debates “Territórios Negros na Urbes Paulistana: Mídia e Relações Raciais e Novas Mídias Negras”, que aconteceram nos dias 03 e 04 de outubro, em São Paulo. Durante os dois dias de discussões, comunicadores dos principais sites e blogues negros do estado, aproveitaram a oportunidade para dialogar sobre o trabalho que desempenham e fortalecer parcerias.

Fonte: Áfricas

Cara e Cultura Negra 2013


A Coordenação de Educação em Diversidade - CEDIV, o Instituto Marka e a Prefeitura Comunitária do CONIC convidam a todos a participar da programação do 9o Festival de Cultura Negra - CaraECULTURANEGRA que se realizará no período de 15 a 30 de novembro.

 

                Serão 15 dias de intensa programação com palestras, oficinas, visitas guiadas para professores e alunos do ensino médio da rede publica do DF, capacitação de professores, shows musicais, exposições educacionais, fotográficas e de artes plásticas, espetáculos de teatro e dança, mostra de cinema, entre outras atividades, promovendo o acesso gratuito à nossa história a milhares de pessoas que circularão pelos vários espaços da cidade de Brasília.

           Cara e Cultura Negra é um programa de ações anuais que visa promover e preservar a identidade cultural, social e econômica resultante da influência da  raça negra na construção da sociedade brasileira, e  potencializar a participação dessa população no processo de desenvolvimento, a partir de sua história e sua cultura.

         Criado durante as festividades do 20 de novembro, há cerca de 9 anos, o Festival Cara e Cultura Negra vem se transformando numa referência obrigatória no cenário das celebrações do Dia Nacional da Consciência Negra, em Brasília, tornando-se um relevante ‘espaço’ para esse grupo étnico, seja de preservação da cultura afro brasileira ou de fomento ao turismo étnico, seja de mobilização social ou de geração de empregos e , principalmente, de consolidação da cidade como mais um polo da cultura negra no país.

         Em 2013 celebraremos o mês da Consciência Negra com o tema "CABEÇA DE ZUMBI, Negras Caras Brasilienses" em uma exposição grande formato no PANTEÃO DA PÁTRIA, fazendo uma ponte entre os heróis negros do passado e os do presente, os que fazem a cidade de Brasília todos os dias.
 
Toda a programação é gratuita e pode ser acessada por meio do site www.caraeculturanegra.com.br e qualquer informação pode ser obtida          nos telefones 61 3225 64 18, 61 3321 7100, 61 7815 6250 ou 99816775.
 
 
 
 
Toda a nossa programação é gratuita e pode ser acessada por meio do site www.caraeculturanegra.com.br e qualquer informação pode ser obtida          nos telefones 61 3225 64 18, 61 3321 7100, 61 7815 6250 ou 99816775.

 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Racismo e discriminação no rap de Kanhanga, angolano no Brasil

Por: Redação
01/10/2013
O músico, que vive no país sul-americano há oito anos, apresenta seu novo álbum. Narrador Kanhanga, como é conhecido, conta através da música as dificuldades de um jovem negro e imigrante no Brasil.

“O Preto do Bairro II” é o novo álbum, lançado neste mês no Brasil, do rapper angolano Kanhanga. O disco traz relatos da dura vida deste jovem de 30 anos, nascido na cidade de Lobito, província de Benguela, em Angola.

Geraldino Canhanga do Carmo da Silva vive há oito anos na cidade de Porto Alegre, região sul do Brasil. No novo disco é possível conhecer um pouco mais sobre a história de vida deste jovem, que chegou no Brasil em 2005 para estudar Administração de Negócios Internacionais e investir na carreira de músico.

“O Preto do Bairro resgata a minha vida, a vida da minha família, as minhas emoções, a minha trajetória. Conta o que eu passei em Angola e o que eu passo aqui no Brasil, caracteriza a minha vida”, diz o rapper. Para ele, basta escutar uma música para saber um pouco sobre a sua personalidade.

Temas como preconceito, desigualdade social e descriminação fazem parte do quinto álbum de Kanhanga.


Homenagem aos pais

A primeira música do CD é em homenagem ao pai do músico, que morreu em consequência de um acidente vascular cerebral. “O meu pai ficou cinco anos doente, cadeirante, ele tinha trombose. Depois de três anos ele já tinha perdido a fala e o movimento dos membros superiores e inferiores”, lamenta.


O cantor conta que a família tentou socorrer o pai: “A gente correu, fez de tudo para tentar melhorar a saúde dele, andamos pelos hospitais de Angola, mas a gente não conseguiu”.

O cantor angolano também dedicou uma música em homenagem a sua mãe, que faleceu no período em que o rapper estava no Brasil estudando. A música contextualiza o sentimento da perda e saudade mesclada com dor e solidão.

Racismo

O cantor também aborda temas sociais em suas canções, como é o caso da desigualdade e o racismo. “Existe uma disparidade enorme entre as classes sociais. E quem luta por uma causa como essa, por justiça e igualdade social, consegue enxergar isso”, conta.


O Preto do Bairro II é o quinto disco de Kanhanga

Narrador Kanhanga diz que ele mesmo sofre com o racismo. “Isso é visível. E quem achar que não existe está a enganar-se a si próprio. Eu vivo isso, está no meu dia-a-dia. Embora eu tenha um mecanismo para driblar isso, o preconceito ainda existe.”


“O Preto do Bairro II” fala, através do rap, tudo o que este jovem negro africano, sem pai, sem mãe e imigrante, viveu em uma sociedade brasileira preconceituosa e racista.



Fonte: Africas

A invisibilidade da estética negra: a dor do racismo sobre nossos cabelos


Por: Luara Vieira para as Blogueiras Negras
02/10/2013
Não é novidade que a estética negra – expressão entendida como conceitos e juízos de beleza baseada nas características da população negra - não é valorizada em nossa sociedade, diga-se de passagem, uma sociedade extremamente racista, que tenta a todo custo dissipar qualquer manifestação de negritude contida na mesma.

Pois bem, estou passando por um momento muito importante para meu amadurecimento como mulher e negra, que é: transição dos cabelos. Há mais de um ano venho ensaiando essa mudança, que pra mim não é apenas uma mudança estética, é muito mais que isso, é um momento muito especial, em que me reconheço como negra, enxergo meu cabelo como bonito independente do que a sociedade considere como belo, amo meus traços, minha ancestralidade, enfim, enxergo-me negra para além da cor da pele.


Desde que o desejo de retornar ao meu cabelo natural começou a ficar forte, beirando às vezes ao desespero por vê-lo com duas texturas (meio crespo, meio alisado), passei a procurar na internet meios que me auxiliem na passagem desta fase, pois trata-se de uma escolha difícil e muitas vezes sofrida. Afinal, são dez anos usando química e uma vida inteira ouvindo o quão feio é meu cabelo. Além de procurar em blogs, vídeos e páginas, todas as alternativas possíveis para enfrentar esse momento, deparei-me com a falta de locais especializados no cuidado de cabelos crespos na cidade onde moro, Maringá-Paraná, fato que me causou uma grande decepção, pois, por tratar-se de uma cidade de médio porte acreditei que encontraria ao menos algumas opções de salões especializados. Triste engano.


Mesmo tendo conhecimento de que a estética negra é extremamente desvalorizada socialmente, a minha crença na existência de lugares especializados talvez tenha se dado pela necessidade de refugiar-me de uma estrutura violenta e opressora, principalmente, quando se trata dos cabelos. Não queria mais agredir minha estética, mas precisava me sentir auxiliada de certa forma.

Da última vez que alisei meus cabelos, sai do salão com a certeza que nunca mais voltaria lá (pelo menos para fazer química), chorei o caminho todo até chegar em casa e passei muitos dias pensando como seria bom encontrar alguns lugares para cuidar dos meus cabelos e das demais meninas crespas que existem por aqui. Sinceramente, não sei explicar ao certo o porquê dessa esperança, visto que sou ciente da invisibilidade estética com que somos tratadas. De todo modo, a esperança manteve-se até o momento que percebi de fato não haver nenhum local especializado por aqui (pelo menos não encontrei até hoje).


Além de me entristecer, este fato me incitou uma reflexão diferente das que eu já havia feito, acerca da desvalorização estética da população negra e em especial do cabelo natural. Me pus a pensar o que faz com que sejamos tão invisibilizados dentro de uma sociedade, visto que, segundo o SAE ( Secretaria de Assuntos Estratégicos) dos 35 milhões de pessoas que ascenderam para a classe média, nós negras/os somamos 80% do total, ou seja, somos consumidores ativos como qualquer outro e no entanto temos nossas especificidades constantemente ignoradas, não nos vemos representados nas campanhas publicitárias, nas novelas e filmes, nas revistas etc. e quando por ventura aparecemos nesses locais somos retratados de modo negativo, carregados de estereótipos, vide a “bela homenagem” feita pelo estilista Ronaldo Fraga, colocando palhas de aço na cabeça de modelos brancas para retratar, segundo ele, a “representação da cultura negra”.


Diante disso, me pergunto constantemente por que nossa estética não é representada e o porquê de não encontramos lugares especializados em nossa beleza? Será que não somos bonitas/os? Ou não somos consumidores? As respostas a esses questionamentos são facilmente encontradas quando levamos em conta que vivemos em uma sociedade racista, sexista e elitista, onde pensar a estética negra parece ser o último dos esforços das empresas, dos publicitários e das mídias em geral, já que estão há séculos nos estereotipando, dizendo que não representamos o belo, adjetivando nossos cabelos ora de “cabelo de bombril” ora de “cabelo ruim”, tentando a todo custo ofuscar a beleza que trazemos em cada traço.

Portanto, creio que a questão de resgatar e difundir a estética negra não seja meramente um golpe"comercial, há de fato uma luta política por trás disso, existem milhares de autoestimas sendo construídas ou reerguidas, principalmente a das mulheres negras, já que estas são as que mais sofrem com os pré-requisitos de uma “boa aparência” impostos de forma cruel por nossas sociedade, já que esses requisitos geralmente dizem respeito a jovialidade, brancura e cabelos lisos.


Para comprovarmos a existência desses pré-requisitos basta observarmos os anúncios de trabalho e nos depararmos com a exigência de fotos nos currículos, usadas geralmente como quesito eliminatório para aquelas/es que apresentem sua estética fora dos padrões estabelecidos. Desse modo, a exigência de uma visibilidade estética é mais que o consumo de produtos e serviços que sejam específicos pra nossas características, mas é, sem dúvidas um resgate a nossa ancestralidade.

O cabelo e seus penteados sempre possuíram uma grande importância para o povo africano, pois, através dele demonstram a ocupação de cada pessoa da nação, sua inserção em novos períodos de vida, dentre inúmeros significados que não chegaram a nós.


Portanto, manter e resgatar o cabelo crespo demonstra um resgate da memória, da cultura e espiritualidade ancestrais do negro. Para Lody (2004) o cabelo é uma marca de procedência e é através dele que o negro marca sua estética perante a sociedade, constituindo também um posicionamento político.


Por isso, precisamos sim nos vermos retratados em todos os âmbitos sociais, pois, representamos uma grande parcela consumidora, movimentamos os diferentes mercados, seja consumindo ou trabalhando. Temos o direito de vermos nossa estética tratada com respeito, para que nossas crianças cresçam com uma autoestima elevada, percebendo desde de cedo que ser negro é lindo e que nossos cabelos crespos, ao contrário do querem que acreditemos, é bom.


É pela necessidade de construirmos uma autoestima desde cedo, que se faz necessário romper com esse padrão estético racista e a todo momento lutar contra a invisibilidade com que somos tratados, para que essa sociedade entenda, com muito amor, de uma vez todas: O NOSSO CABELO CRESPO NÃO É RUIM.


Fonte: Cacheados,Crespos ou Afro

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Fiscalização resgata 111 em situação de escravidão em obras de Cumbica


Por: Redação
27/09/2013
Trabalhadores aliciados pela OAS no Nordeste viviam em condições precárias de higiene, sem alimentação nem roupas de frio. Obra foi terceirizada pela concessionária que administra o aeroporto

Uma operação de fiscalização encontrou 111 pessoas vivendo em condições análogas à escravidão, em regiões próximas a Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo o Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego, funcionários da empresa OAS, uma das maiores construtoras do Brasil, aliciaram trabalhadores da região Nordeste para trabalhar na ampliação do Terminal 3 do aeroporto de Cumbica, um dos maiores da América Latina. Eles foram encontrados em alojamentos com condições precárias de higiene, sem alimentação nem roupas de frio. Alguns estavam doentes. Sobreviviam desde julho, quando chegaram à capital, com ajuda de moradores da região e representantes da igreja.

Resgatados a partir do dia 6, após denúncia Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Guarulhos e Arujá, esses operários iriam trabalhar como carpinteiros, pedreiros e armadores, com a promessa de registro em carteira, salário de R$ 1.400, vale-refeição e transporte. Trazidos de Pernambuco, Bahia, Piauí e Maranhão (seis são de origem indígena), eles teriam pago a funcionários da construtora uma taxa de R$ 300 para o transporte até São Paulo, mais R$ 100 como garantia da vaga.

Os trabalhadores fizeram os exames médicos solicitados, mas não estavam trabalhando nas obras do aeroporto, pois faziam parte de um “estoque” de trabalhadores, um "banco de espera" à disposição da empresa. “A CLT prevê que a contratação pode ocorrer no local de origem, desde que a empresa contratante apresente uma certidão declaratória de transportes de trabalhadores, onde deve informar o local e as condições de trabalho e se responsabilizar com todo o processo de contratação, incluindo a viagem até a cidade de destino, o que nunca foi obedecido”, afirmou a procuradora do MPT Christiane Vieira Nogueira. Representantes do MTE e do MPT afirmam que as investigações continuam para apurar se mais 160 pessoas estão submetidas às mesmas condições, totalizando 271.

“Estamos tomando providências porque existem mais trabalhadores nessa situação. O povo que tem dinheiro acha que pode pisar no povo nordestino, eu pensava que nunca mais veria esse tipo de trabalho que ainda ocorre no Brasil”, disse o presidente do sindicato, Edmilson Girão da Silva, o Índio.

“Esse é o primeiro passo, continuamos investigando para compreender a real dimensão disso. As investigações ocorrem também com a participação do Ministério Público Federal para verificação de ação criminal no caso”, afirmou o coordenador de Ações de Trabalho Escravo da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) de São Paulo, Renato Bignami.

O MTE, por meio do Programa Estadual de Ratificação do Trabalho Escravo, responsabilizou a OAS pela condição degradante de manter trabalhadores em condições análogas a escravidão. Em nota, a construtora declarou que "vem apurando e tomando todas as providências necessárias para atender às solicitações" do ministério.

A GRU Airport, empresa que terceirizou os serviços contratando a OAS para realização do serviço, foi incluída na ação cautelar e poderá ser responsabilizada no final da ação por todas as ações trabalhistas.

“Existe um entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST) com a Súmula 331, que responsabiliza em caso de terceirização a empresa tomadora de serviços e a prestadora. Portanto, existe o enquadramento da contratante no processo que tramitará para aferir o grau da responsabilidade da concessionária”, observou a juíza Patrícia Therezinha de Toledo, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.

Os trabalhadores resgatados já voltaram a seus locais de origem. Eles foram indenizados com o valor médio de R$ 6 mil cada e receberão todas as verbas rescisórias, além do pagamento de três parcelas de seguro-desemprego. Eles também terão prioridade na inclusão de programas sociais como Bolsa Família e Pronatec.

Contra a empresa foram lavrados 25 autos de infração, totalizando cerca de R$ 140 mil em multas. A construtora poderá ser incluída no cadastro de empregadores que mantêm trabalhadores em condições análogas à escravidão, a “lista suja” do MTE. Assim será monitorada pela fiscalização por mais dois anos e terá restrições de recebimento de financiamento público até comprovar a regularidade. O MPT pediu o bloqueio de bens da OAS e da GRU Airport, no valor de R$ 15 milhões para cada. A OAS pode ser responsabilizada em ação civil, administrativa, trabalhista e criminal. Funcionários da construtora que atuavam na rede clandestina de aliciamento também podem ser indiciados criminalmente pelo caso.

“Isso pode ser a ponta de um iceberg. Infelizmente, acredito que muita gente nessas situações ainda irá aparecer. É necessário visitar todas as obras feitas em sistema de emergência, como esta que está ocorrendo em Guarulhos”, diz o superintendente regional, Luiz Antônio de Medeiros, referindo-se às obras que deverão ser entregues para a Copa do Mundo de 2014.

Em nota, a OAS nega que as vítimas sejam seus empregados e afirma que "a empresa, nas pessoas dos seus representantes, não teve qualquer participação no incidente relatado".

Fonte: Rede Brasil Atual


Fonte: Correio Nogô

"Meu avô teria me fuzilado", diz neta negra de comandante nazista


Por: Redação
30/09/2013
Legenda:"Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen", de Jennifer Teege e Nikola Sellmair
Aos 38 anos, Jennifer Teege descobriu sua verdadeira identidade: é neta de Amon Göth, o assassino sádico de "A lista de Schindler". O novo capítulo de sua vida – doloroso, mas catártico – é agora contado em livro.


"Muita gente não consegue acreditar que essa história não é ficção", comenta Jennifer Teege. Parece, de fato, um tanto absurdo uma mulher de pele escura, de 40 e poucos anos, contar que descobriu que seu avô era um notório criminoso nazista. Trata-se de Amon Leopold Göth, ex-comandante do campo de concentração de Plaszów, nas cercanias da Cracóvia.


O nome é conhecido até hoje. O filme A lista de Schindler, de 1993, narra a história de dois homens: enquanto Amon Göth mata judeus no campo de concentração, Oskar Schindler salva centenas deles, ao recrutá-los para trabalhar em sua fábrica, livrando-os, assim, do campo de extermínio.
Schindler foi honrado em Israel como "Justo entre as Nações"; Göth foi enforcado como criminoso de guerra na Polônia, em 1946. Um alemão e um austríaco, ambos nascidos em 1908: num deles a guerra enfatizou o lado bom; no outro, o mau.


Uma cena do filme de Steven Spielberg, em especial, fica marcada na memória: a partir da varanda de sua casa em Plaszów, Göth dispara contra os presos do campo. Sem mais nem menos. Ainda em vida, esse homem era considerado a acepção do assassino nazista sádico.


Jennifer, neta de Göth, registrou a saga de suas origens no livro Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen (Meu avô teria me fuzilado, em tradução livre), recém-lançado na Alemanha.

Choque de identidade

O pai dela é nigeriano e a mãe, alemã. Jennifer foi criada por uma família adotiva. Ela sabe bem o que acontece quando uma pessoa chama a atenção por ser diferente. "Já quando eu era criança havia comentários, também sobre a cor da minha pele, e na época isso mexia comigo", relata à DW.

Ela estudou em Israel, onde também conheceu muitos sobreviventes do Holocausto. Lia para eles em alemão, e ficava feliz por, mesmo assim, nunca ser percebida como alemã. Ninguém poderia ter imaginado em Israel que justamente essa mulher de pele escura fosse descendente direta de um criminoso nazista.


Durante muito tempo, a própria Jennifer nada sabia de seu histórico familiar. Ela fora entregue ainda pequena à família de criação. No começo, sua mãe natural e a avó ainda a visitavam, depois o contato foi suspenso.

Somente aos 38 anos ela encontrou, por acaso, um livro onde reconheceu sua mãe. O tema era Amon Göth, capitão da SS e comandante de campo de concentração, e sua filha Monika – a mãe natural de Jennifer.


Culpa de geração para geração
Nesse ponto começa o livro escrito por ela juntamente com a jornalista Nikola Sellmair. Com o drástico título, a obra é o relato íntimo da busca de Jennifer por uma identidade, e fala do silêncio do pós-Guerra, cujos efeitos se estendem até hoje.


"Assumam o passado de vocês!", exigiram as gerações mais jovens aos que haviam vivenciado ativamente o nacional-socialismo. "O que o próprio avô fez, muitos não sabem", aponta a jornalista, que no livro situa historicamente a trajetória individual de Jeniffer. "Muitos filhos de nacional-socialistas de destaque oscilam entre a glorificação dos pais e o ódio ilimitado aos seus genitores."


O filho de Rudolf Hess, vice de Adolf Hitler, passou a vida tentando reabilitar o pai. A sobrinha-neta do comandante supremo da força áerea nazista, Hermann Göring, preferiu esterilizar-se – "para não gerar mais um monstro desses", como afirmou.

Monika Göth, a mãe de Jennifer, deu uma série de entrevistas sobre seu pai, onde oscilava entre o ódio a ele a justificação de seus atos. "Os filhos ainda processavam, elaboravam os crimes de seus pais. Já os netos reavaliam os comprometimentos de suas famílias", analisa Nikola Sellmair.
Esse processo mantém os descendentes orbitando em torno da culpa de suas famílias; somente ao reavaliar o passado, os netos encontram o caminho para se libertar dele.

Vítima do silêncio

"Amon. Mein Grossvater hätte mich erschossen", de Jennifer Teege e Nikola Sellmair
"É bem fácil se distanciar de Amon Göth, um símbolo tão forte do mal, e dizer: eu sou diferente", admite Jennifer. "Mas existem nuances, o ser humano não é 'bom' ou 'mau'." Ela considera essa distinção importante, justamente para evitar a demonização. Pois, afinal, foi precisamente isso o que nutriu o nazismo.


Jennifer Teege assume a própria história familiar, olha as fotografias da avó – que passava temporadas com Amon Göth em sua casa no campo de concentração –; viaja para a Cracóvia, local dos crimes de seu antepassado; encontra-se com testemunhas da época; lê tudo o que lhe caia nas mãos a respeito do passado nazista; conversa com psicólogos.


"As pessoas pensam que aquilo sobre que não se fala não tem consequências. Mas, no meu caso, o silêncio teve um efeito destrutivo", resume. Durante toda a vida, ela teve surtos de depressão, e hoje se sente bem. "A origem é fundamental para a própria identidade", conclui.

Até o momento, a história familiar alemã esteve em primeiro plano para Jennifer. Mas, no futuro, ela pretende também conhecer a África. E viajar para a Nigéria, a pátria de seu pai natural.

Fonte: DW