quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Veneno Está na Mesa (completo) ☠☠☠☠





É o nome do documentário de Silvio Tendler. Um filme dedicado a elucidar o cidadão brasileiro sobre o escândalo dos agrotóxicos no Brasil, com depoimentos de agricultores, representantes de consumidores, representantes de multinacionais e da ANVISA, nossa agência nacional de vigilância sanitária. O Brasil é lamentavelmente o país que mais consome agrotóxicos no planeta.
O que mais incomoda no entanto é a total ingenuidade ou mesmo falta de interesse com que a população brasileira trata do assunto. De certa maneira representa uma maneira de pensar que ainda vem do autoritarismo. Algo do tipo "se o governo aprovou é porque deve ser bom". E isso não tem nada a ver com a realidade.
A indústria de venenos agrícolas conta com a nossa ignorância para aprovar, com o aval de congressistas e do alto escalão do poder executivo, substâncias de alto poder de toxicidade e proibidas no resto do planeta, para serem despejadas em nossos alimentos. Um cálculo, dividindo a quantidade de agrotóxicos usadas no Brasil pelo numero de habitantes, gera o número assustador de 5,2 litros de veneno per capita.
Em uma bandeja de morangos encontraram-se 18 tipos de agrotóxicos!
Encontra-se em andamento a Campanha Nacional contra os Agrotóxicos e pela Vida, que busca a proibição de, entre outras coisas, pulverização aérea de agrotóxicos. Essa prática é um absurdo e está levando populações inteiras do interior a uma contaminação das vias aéreas e doenças respiratórias. Essa campanha também busca assinaturas para cancelar os benefícios concedidos pelo governo à indústria de agrotóxicos, isentando-os de todos os impostos. Essa ótica perversa privilegia tais produtos, isentando-os de taxas, como se fossem os venenos algo benéfico ou mesmo estratégicos.
A medicina se pronuncia e o Conselho Regional de Medicina de SP recebeu em sua sede a palestra do Dr. Michael Jansen, cientista da FDA (ANVISA americana), quando foram debatidas as ações dos agrotóxicos sobre a saúde humana da forma aguda ou crônica. Os presidentes das Sociedades Paulista de Endocrinologia e Neurologia confirmaram os achados clínicos descritos nos EUA e fizeram paralelo com a situação no Brasil.
Estamos sob esta ameaça. O veneno está na mesa. Este é o nome do documentário. O consumidor brasileiro deve assumir que é peça principal na desarticulação desta rede de interesses, para a  qual nossa saúde nada conta, menos ainda a saúde da terra. Para eles o que vale são os lucros, o dinheiro gerado pela produção..
Devemos optar pelos orgânicos, fazer feiras orgânicas locais, valorizando o produtor familiar e permitindo que ele venda diretamente ao consumidor. Nós temos esta força estratégica e logística que vale mais que armas. Usemos nossa escolha pelo orgânico como o caminho para a libertação do estado de doença crônica que assola nossa população.

Fonte: Dr. Alberto Gonzalez - www.dralberto.com

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

II Concurso Cultural IFÁ AJE


Jogo de Cinema

O JOGO DE CINEMA

A II Edição do Jogo de Cinema está no ar!

E os jovens que se preparem, pois eles têm uma missão: infiltrar-se no mundo cinematográfico para descobrir como se dá a produção de um filme. Como bons agentes não-secretos, eles precisam cumprir tarefas para dar conta da missão. Os desafios são orientados por pessoas com conhecimento em cinema para que possam guiar os nossos agentes.
Esta edição do jogo é voltado para alunos do ensino fundamental e médio. E podem participar alunos dos seguintes Estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Acre e também do Distrito Federal.

O projeto-piloto, realizado em 2012, contou com a participação de várias equipes com nomes bastante criativos, como The Avengers e Cineloucos. Na última fase, eles devem organizar uma sessão de cinema na escola, para exibir o curta que produziram e outros vídeos também enviados por participantes do jogo. Em cada uma das tarefas, as equipes ganham pontos – e as equipes que mais participarem terão a oportunidade de receber oficinas de cinema e ainda exibir seu curta em um festival.

Inscreva já a sua equipe

Caso tenha qualquer dúvida, você pode nos achar em: Grupo do Facebook: Jogo de cinema
Página do Facebook: Cine-Educação
E-mail: gestao@cineedu.com.br

Curta Histórias

O que é

Curta Histórias é uma premiação voltada aos alunos matriculados na Educação Básica da rede pública de ensino de todo o país. Criado este ano, o prêmio tem como tema de abertura “Africanidades Brasileiras”.
Esta iniciativa visa incentivar novos talentos e estimular o desenvolvimento das atividades pedagógicas, audiovisuais de cunho cultural e educativo em escolas públicas brasileiras.
Desta forma, valoriza a Educação das Relações Étnico-Raciais e a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira na Educação Básica.

Como participar

Cada escola poderá inscrever apenas um vídeo, produzido por uma equipe formada por um professor ou educador responsável e até cinco alunos.
Os vídeos devem ter, no máximo, um minuto de duração, sem contar os créditos. As imagens podem ser captadas por meio de aparelhos de telefone celular ou câmeras domésticas.
As inscrições são gratuitas e estarão abertas até 05 de Novembro de 2013.
 

Premiação

O prêmio Curta Histórias terá dez finalistas e, entre esses, três vencedores: um escolhido pelo Júri Popular e outros dois pela Comissão Julgadora Final.
As equipes vencedoras serão premiadas da seguinte forma:
• alunos: oficina de formação em cinema e empreendedorismo com duração de 24 horas; um tablet e um smartphone para cada participante da equipe;
• professor: oficina de formação em cinema e empreendedorismo com duração de 24 horas; um tablete e um smartphone;
• escola: um data show, um dvd, uma filmadora digital e uma câmera fotográfica semiprofissional.
Os vencedores serão anunciados no dia 25 de novembro de 2013, durante evento que o Ministério da Educação realizará em Brasília, com a participação das dez equipes finalistas. Após o evento, o resultado será disponibilizado no site.
 

Datas importantes

No quadro abaixo, estão as principais datas do calendário de atividades do prêmio Curta Histórias.
datas_importantes
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Comunicadores (as) negros(as) conquistam espaço nas mídias digitais

Por: Redação
09/10/2013
O compromisso com a temática negra e a produção de informação de qualidade fazem com que as mídias negras se consolidem na web


Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dão conta que mais de 100 milhões de brasileiros têm acesso à internet. Para conseguir alcançar esse público, produtores de conteúdo negro migraram para este que é o meio mais democrático de produção de informação.

Nas mídias negras as notícias têm uma agenda complementar aos meios convencionais para despertar a reflexão do leitor, negro ou branco, sobre as relações raciais no Brasil e no mundo. Apesar dos desafios da criação de um veículo cujo tema central é as relações raciais, o estilo editorial adotado por cada portal, e o primor pela qualidade dos textos e informações divulgadas, são as principais armas para garantia de público e seguidores.

Relações raciais e mídia – a perspectiva paulistana: São Paulo é, atualmente, um pólo de produção de informação negra para a web, pois concentra o maior número de veículos com essa característica no país. Os portais do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade), Áfricas, Kultafro, Geledés e os blogues e Banho Assento, Elo da Corrente, o canal no YouTube Diário Preto; as páginas no Facebook Nomes Afro, Africanos e seus Significados e Feministas Negras Radicais, assim como a revista Omenelik – 2º Ato, são uma mostra do potencial das mídias negras na web e fora dela.

Juliana Gonçalves – CEERT

Juliana Gonçalves, do CEERT, destaca o compromisso do Centro com a produção de textos informativos e didáticos, destinado para um público ainda em formação sobre questões raciais. A jornalista ressaltou a necessidade de dar visibilidade às fontes negras, afim de que possam contribuir em notícias sobre os mais variados assuntos em outros meios de comunicação.

Luiz Paulo Lima – Kultafro

Luiz Paulo Lima, do Kultafro, alerta para as estratégias de conquista de novos leitores e fidelização do público. De acordo com Lima, o site tem uma preocupação com a escolha dos temas a serem abordados e o tratamento dado a cada notícia. “O título e as imagens na home são fundamentais. Um título passivo passa desapercebido na web que tem muita informação”, pontua.

Luiz Paulo Lima – Kultafro

Luiz Paulo Lima, do Kultafro, alerta para as estratégias de conquista de novos leitores e fidelização do público. De acordo com Lima, o site tem uma preocupação com a escolha dos temas a serem abordados e o tratamento dado a cada notícia. “O título e as imagens na home são fundamentais. Um título passivo passa desapercebido na web que tem muita informação”, pontua.

Washington Luiz – Portal Áfricas

Investimento públicos nas mídias negras – Washington Lúcio, do Portal Áfricas, alerta para a necessidade de mais investimento nas mídias negras. O jornalista denuncia que o governo brasileiro ainda não investe recursos publicitários nos sites e portais de conteúdo etnicorracial. Para ele é necessário traçar uma estratégia para que esse veículos tenham o mesmo acesso aos recursos que as mídias convencionais.

Blogues, fan-pages e canais de vídeo - A facilidade de acesso e a possibilidade de contribuir para o conteúdo postado atraem os leitores, vistos agora como integrantes, dos blogues, fan-pages e canais de vídeos nas redes sociais. Para Jairo Pereira, artista multimídia, a inspiração para criação Diário Preto no YouTube foi a indignação pessoal em relação a alguns casos emblemáticos de racismo.

Jairo Pereira – Diário Preto

Nos vídeos que produz, Jairo expõe suas opiniões sobre os mais diversos temas, sempre vinculados a temática negra, e convida o expectador à reflexão. “O que a gente enfrenta no dia a dia são as pessoas que não conseguem ver a importância das ações afirmativas. Fazemos as pessoas parar pra pensar”, pontua.

Feminismo negro na pauta - O blogue Banho de Assento foi criado para divulgar receitas caseiras para cura de enfermidades. É um espaço feito por mulheres para as mulheres. “Costumo dizer que o Banho de Assento é um blogue de perereca”, diz Jacqueline Romio, responsável pelo site. A blogueira conta que o espaço se transformou num fórum de ajuda e troca de informações sobre doenças sexualmente transmissíveis, relacionamentos e aconselhamento para mulheres de todas as raças e etnias, de diferentes faixas etárias.

Jacqueline Romio – Banho de Assento

Além disso, o site também é uma área de militância política e divulgação cultural negra. Fascinada por tecnologia, ainda atua na página privada no Facebook Feministas Negras Radicais, grupo formado majoritariamente por mulheres, que discute os reflexos do racismo, sexismo e da lesbofobia na sociedade brasileira.

Quem também explora o mundo de possibilidades oferecido pelo Facebook é Renata Molinaro, da fan-page Nomes Afro, Africanos e seus Significados. De acordo com Renata, a criação da página partiu de uma necessidade particular de estar mais próxima da ancestralidade africana. Com quase 20 mil seguidores, Renata conta que se sente acolhida pelos contatos do blogue. “Ali estou entre os meus”, diz.

Michel Yakini – Blog Elo da Corrente

Literatura negra - O trabalho com rádios comunitárias em São Paulo, inspirou em 2007, a criação do blogue Elo da Corrente e do Coletivo Literário Negro. O site conta com textos políticos, literários e poéticos, divulga a realização de saraus e outras atividades relacionadas a produção literária. Michel Yakini, escritor, um dos responsáveis pelo conteúdo, conta que, mesmo não sendo de comunicadores, conseguiram conquistar o público e “se estabelecer fora da imposição da invisibilidade”. Michel reconhece na web a possibilidade de “ampliar as redes de comunicação e ir além delas. Uma extensão para a divulgação da literatura negra”, conta.


Nabor Júnior – Omenelick 2º Ato

Imprensa Negra – Nabor Júnior, resgatou um dos ícones da imprensa negra do século 19 no Brasil, o jornal Omenelick, com a criação de uma revista homônima: a Omenelick – 2º Ato. Nabor conta que a decisão por um meio de comunicação físico partiu da necessidade de preencher o espaço por mais informações sobre a produção artisticocultural negra paulista. Segundo o jornalista, a revista conta as experiências urbanas a partir do ponto de vista racial e da juventude. “Temos um potencial a ser explorado em relação ao público jovem, se bem usada, a ferramenta tem bons resultados”, comenta Nabor.

Palmares 25 Anos – Mídias e Relações Raciais: Os depoimentos são fruto dos debates “Territórios Negros na Urbes Paulistana: Mídia e Relações Raciais e Novas Mídias Negras”, que aconteceram nos dias 03 e 04 de outubro, em São Paulo. Durante os dois dias de discussões, comunicadores dos principais sites e blogues negros do estado, aproveitaram a oportunidade para dialogar sobre o trabalho que desempenham e fortalecer parcerias.

Fonte: Áfricas

Cara e Cultura Negra 2013


A Coordenação de Educação em Diversidade - CEDIV, o Instituto Marka e a Prefeitura Comunitária do CONIC convidam a todos a participar da programação do 9o Festival de Cultura Negra - CaraECULTURANEGRA que se realizará no período de 15 a 30 de novembro.

 

                Serão 15 dias de intensa programação com palestras, oficinas, visitas guiadas para professores e alunos do ensino médio da rede publica do DF, capacitação de professores, shows musicais, exposições educacionais, fotográficas e de artes plásticas, espetáculos de teatro e dança, mostra de cinema, entre outras atividades, promovendo o acesso gratuito à nossa história a milhares de pessoas que circularão pelos vários espaços da cidade de Brasília.

           Cara e Cultura Negra é um programa de ações anuais que visa promover e preservar a identidade cultural, social e econômica resultante da influência da  raça negra na construção da sociedade brasileira, e  potencializar a participação dessa população no processo de desenvolvimento, a partir de sua história e sua cultura.

         Criado durante as festividades do 20 de novembro, há cerca de 9 anos, o Festival Cara e Cultura Negra vem se transformando numa referência obrigatória no cenário das celebrações do Dia Nacional da Consciência Negra, em Brasília, tornando-se um relevante ‘espaço’ para esse grupo étnico, seja de preservação da cultura afro brasileira ou de fomento ao turismo étnico, seja de mobilização social ou de geração de empregos e , principalmente, de consolidação da cidade como mais um polo da cultura negra no país.

         Em 2013 celebraremos o mês da Consciência Negra com o tema "CABEÇA DE ZUMBI, Negras Caras Brasilienses" em uma exposição grande formato no PANTEÃO DA PÁTRIA, fazendo uma ponte entre os heróis negros do passado e os do presente, os que fazem a cidade de Brasília todos os dias.
 
Toda a programação é gratuita e pode ser acessada por meio do site www.caraeculturanegra.com.br e qualquer informação pode ser obtida          nos telefones 61 3225 64 18, 61 3321 7100, 61 7815 6250 ou 99816775.
 
 
 
 
Toda a nossa programação é gratuita e pode ser acessada por meio do site www.caraeculturanegra.com.br e qualquer informação pode ser obtida          nos telefones 61 3225 64 18, 61 3321 7100, 61 7815 6250 ou 99816775.

 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Racismo e discriminação no rap de Kanhanga, angolano no Brasil

Por: Redação
01/10/2013
O músico, que vive no país sul-americano há oito anos, apresenta seu novo álbum. Narrador Kanhanga, como é conhecido, conta através da música as dificuldades de um jovem negro e imigrante no Brasil.

“O Preto do Bairro II” é o novo álbum, lançado neste mês no Brasil, do rapper angolano Kanhanga. O disco traz relatos da dura vida deste jovem de 30 anos, nascido na cidade de Lobito, província de Benguela, em Angola.

Geraldino Canhanga do Carmo da Silva vive há oito anos na cidade de Porto Alegre, região sul do Brasil. No novo disco é possível conhecer um pouco mais sobre a história de vida deste jovem, que chegou no Brasil em 2005 para estudar Administração de Negócios Internacionais e investir na carreira de músico.

“O Preto do Bairro resgata a minha vida, a vida da minha família, as minhas emoções, a minha trajetória. Conta o que eu passei em Angola e o que eu passo aqui no Brasil, caracteriza a minha vida”, diz o rapper. Para ele, basta escutar uma música para saber um pouco sobre a sua personalidade.

Temas como preconceito, desigualdade social e descriminação fazem parte do quinto álbum de Kanhanga.


Homenagem aos pais

A primeira música do CD é em homenagem ao pai do músico, que morreu em consequência de um acidente vascular cerebral. “O meu pai ficou cinco anos doente, cadeirante, ele tinha trombose. Depois de três anos ele já tinha perdido a fala e o movimento dos membros superiores e inferiores”, lamenta.


O cantor conta que a família tentou socorrer o pai: “A gente correu, fez de tudo para tentar melhorar a saúde dele, andamos pelos hospitais de Angola, mas a gente não conseguiu”.

O cantor angolano também dedicou uma música em homenagem a sua mãe, que faleceu no período em que o rapper estava no Brasil estudando. A música contextualiza o sentimento da perda e saudade mesclada com dor e solidão.

Racismo

O cantor também aborda temas sociais em suas canções, como é o caso da desigualdade e o racismo. “Existe uma disparidade enorme entre as classes sociais. E quem luta por uma causa como essa, por justiça e igualdade social, consegue enxergar isso”, conta.


O Preto do Bairro II é o quinto disco de Kanhanga

Narrador Kanhanga diz que ele mesmo sofre com o racismo. “Isso é visível. E quem achar que não existe está a enganar-se a si próprio. Eu vivo isso, está no meu dia-a-dia. Embora eu tenha um mecanismo para driblar isso, o preconceito ainda existe.”


“O Preto do Bairro II” fala, através do rap, tudo o que este jovem negro africano, sem pai, sem mãe e imigrante, viveu em uma sociedade brasileira preconceituosa e racista.



Fonte: Africas

A invisibilidade da estética negra: a dor do racismo sobre nossos cabelos


Por: Luara Vieira para as Blogueiras Negras
02/10/2013
Não é novidade que a estética negra – expressão entendida como conceitos e juízos de beleza baseada nas características da população negra - não é valorizada em nossa sociedade, diga-se de passagem, uma sociedade extremamente racista, que tenta a todo custo dissipar qualquer manifestação de negritude contida na mesma.

Pois bem, estou passando por um momento muito importante para meu amadurecimento como mulher e negra, que é: transição dos cabelos. Há mais de um ano venho ensaiando essa mudança, que pra mim não é apenas uma mudança estética, é muito mais que isso, é um momento muito especial, em que me reconheço como negra, enxergo meu cabelo como bonito independente do que a sociedade considere como belo, amo meus traços, minha ancestralidade, enfim, enxergo-me negra para além da cor da pele.


Desde que o desejo de retornar ao meu cabelo natural começou a ficar forte, beirando às vezes ao desespero por vê-lo com duas texturas (meio crespo, meio alisado), passei a procurar na internet meios que me auxiliem na passagem desta fase, pois trata-se de uma escolha difícil e muitas vezes sofrida. Afinal, são dez anos usando química e uma vida inteira ouvindo o quão feio é meu cabelo. Além de procurar em blogs, vídeos e páginas, todas as alternativas possíveis para enfrentar esse momento, deparei-me com a falta de locais especializados no cuidado de cabelos crespos na cidade onde moro, Maringá-Paraná, fato que me causou uma grande decepção, pois, por tratar-se de uma cidade de médio porte acreditei que encontraria ao menos algumas opções de salões especializados. Triste engano.


Mesmo tendo conhecimento de que a estética negra é extremamente desvalorizada socialmente, a minha crença na existência de lugares especializados talvez tenha se dado pela necessidade de refugiar-me de uma estrutura violenta e opressora, principalmente, quando se trata dos cabelos. Não queria mais agredir minha estética, mas precisava me sentir auxiliada de certa forma.

Da última vez que alisei meus cabelos, sai do salão com a certeza que nunca mais voltaria lá (pelo menos para fazer química), chorei o caminho todo até chegar em casa e passei muitos dias pensando como seria bom encontrar alguns lugares para cuidar dos meus cabelos e das demais meninas crespas que existem por aqui. Sinceramente, não sei explicar ao certo o porquê dessa esperança, visto que sou ciente da invisibilidade estética com que somos tratadas. De todo modo, a esperança manteve-se até o momento que percebi de fato não haver nenhum local especializado por aqui (pelo menos não encontrei até hoje).


Além de me entristecer, este fato me incitou uma reflexão diferente das que eu já havia feito, acerca da desvalorização estética da população negra e em especial do cabelo natural. Me pus a pensar o que faz com que sejamos tão invisibilizados dentro de uma sociedade, visto que, segundo o SAE ( Secretaria de Assuntos Estratégicos) dos 35 milhões de pessoas que ascenderam para a classe média, nós negras/os somamos 80% do total, ou seja, somos consumidores ativos como qualquer outro e no entanto temos nossas especificidades constantemente ignoradas, não nos vemos representados nas campanhas publicitárias, nas novelas e filmes, nas revistas etc. e quando por ventura aparecemos nesses locais somos retratados de modo negativo, carregados de estereótipos, vide a “bela homenagem” feita pelo estilista Ronaldo Fraga, colocando palhas de aço na cabeça de modelos brancas para retratar, segundo ele, a “representação da cultura negra”.


Diante disso, me pergunto constantemente por que nossa estética não é representada e o porquê de não encontramos lugares especializados em nossa beleza? Será que não somos bonitas/os? Ou não somos consumidores? As respostas a esses questionamentos são facilmente encontradas quando levamos em conta que vivemos em uma sociedade racista, sexista e elitista, onde pensar a estética negra parece ser o último dos esforços das empresas, dos publicitários e das mídias em geral, já que estão há séculos nos estereotipando, dizendo que não representamos o belo, adjetivando nossos cabelos ora de “cabelo de bombril” ora de “cabelo ruim”, tentando a todo custo ofuscar a beleza que trazemos em cada traço.

Portanto, creio que a questão de resgatar e difundir a estética negra não seja meramente um golpe"comercial, há de fato uma luta política por trás disso, existem milhares de autoestimas sendo construídas ou reerguidas, principalmente a das mulheres negras, já que estas são as que mais sofrem com os pré-requisitos de uma “boa aparência” impostos de forma cruel por nossas sociedade, já que esses requisitos geralmente dizem respeito a jovialidade, brancura e cabelos lisos.


Para comprovarmos a existência desses pré-requisitos basta observarmos os anúncios de trabalho e nos depararmos com a exigência de fotos nos currículos, usadas geralmente como quesito eliminatório para aquelas/es que apresentem sua estética fora dos padrões estabelecidos. Desse modo, a exigência de uma visibilidade estética é mais que o consumo de produtos e serviços que sejam específicos pra nossas características, mas é, sem dúvidas um resgate a nossa ancestralidade.

O cabelo e seus penteados sempre possuíram uma grande importância para o povo africano, pois, através dele demonstram a ocupação de cada pessoa da nação, sua inserção em novos períodos de vida, dentre inúmeros significados que não chegaram a nós.


Portanto, manter e resgatar o cabelo crespo demonstra um resgate da memória, da cultura e espiritualidade ancestrais do negro. Para Lody (2004) o cabelo é uma marca de procedência e é através dele que o negro marca sua estética perante a sociedade, constituindo também um posicionamento político.


Por isso, precisamos sim nos vermos retratados em todos os âmbitos sociais, pois, representamos uma grande parcela consumidora, movimentamos os diferentes mercados, seja consumindo ou trabalhando. Temos o direito de vermos nossa estética tratada com respeito, para que nossas crianças cresçam com uma autoestima elevada, percebendo desde de cedo que ser negro é lindo e que nossos cabelos crespos, ao contrário do querem que acreditemos, é bom.


É pela necessidade de construirmos uma autoestima desde cedo, que se faz necessário romper com esse padrão estético racista e a todo momento lutar contra a invisibilidade com que somos tratados, para que essa sociedade entenda, com muito amor, de uma vez todas: O NOSSO CABELO CRESPO NÃO É RUIM.


Fonte: Cacheados,Crespos ou Afro